terça-feira, 20 de novembro de 2012

Contos Modernos



Ao desejo de dias melhores no futuro para todos nós.

         Minha filhinha, eu vou te contar uma história... Era uma vez uma princesa, ela nascera há alguns anos. Tinha tudo pra ser uma criança qualquer, não fosse o fato de que ela viria se tornar uma mulher extremamente peculiar. Isso mesmo, peculiar. Você deve estar se perguntando qual a razão deste adjetivo... Pois bem, porque sem receio de errar, até o presente momento, ela é uma mulher que provou não vir ao mundo para ser mais uma... Veio para ser "ELA"!
A primeira vez que vi esta jovem foi algumas décadas atrás, quando estudamos na mesma escola. Na época não nos tornamos amigos, no máximo conhecidos de escola e como eu me arrependo de não ter me aproximado dela! Eu mudei de escola, e algum tempo depois reencontramo-nos, agora já adolescentes. Continuamos sem nenhuma proximidade. Então algum tempo depois eu ainda não tinha contato algum com ela, mas eu sabia que havia se transformado em uma linda mulher. Por birra do destino estivemos nos mesmos lugares por vezes até começarmos a nos falar, voltamos a nos ver e desde então... Bem, acho que naquele momento, a condição de "apenas conhecidos" havia se dissipado. A partir de então, já não consigo classificar o que somos. Nós somos amigos mas eu sei que esta é uma classificação paupérrima, afinal o sentimento que cabe em momentos tão desencontrados é enorme.
Mas aonde o senhor quer chegar papai? Esta história não faz sentido algum. Disse a filha confusa ao seu pai. E o pai respondeu: Meu amor, eu sei que você é uma criança inteligente, é a melhor amiga que o papai poderia ter, é a rainha do meu coração. Essa princesa da história é um antigo amor do papai que nunca pode ser vivido. Eu amava muito sua mãe, por isso você nasceu, mas mamãe e papai não eram mais felizes juntos... E o papai reencontrou a princesa da história e ela quer te conhecer.
          Depois de alguma negociação entre filha e pai, o jantar aconteceu e mais uma família se reinventou.

...

         Família tem sido um tema recorrente nos meus últimos textos. Cada vez que penso nas infinitas possibilidades que nossa sociedade atual pode nos apresentar ao conceito de família fascino-me ainda mais. Que bom que os tempos mudaram! Viva o novo e suas possibilidades! Hoje em dia o conceito de família reforça ainda mais o que eu sempre soube... O que realmente importa entre os que dividem o mesmo teto é o amor.
         Um amor livre de hipocrisias, de preconceitos, um amor mais puro. Na situação hipotética do ‘conto moderno’ acima, é a demonstração de mais uma das infinitas possibilidades que a família tem hoje em dia. Infelizmente ainda existem dinossauros em nossa sociedade que se mostram verdadeiros paladinos da moral e dos bons costumes. Mas meus queridos, o que é moral hoje em dia? O que é moralmente aceitável em dias de nudez explicita, de criminosos eleitos pelo povo, de corrupção como sinônimo de esperteza? Pois bem, meio as minhas divagações sobre felicidade e temas afins só posso concluir que o único norte que ainda nos salva e purifica é o amor. O Amor aos ideais, amor aos humanos. É disso que precisamos. Vivemos em um tempo onde é tão fácil chamar alguém de idiota, dizer que odeia, e tão difícil abrir o coração para dizer ‘eu te amo’ e se entregar a uma possibilidade de amor.
         Tempo estranho este que vivemos... Mas essa prosinha já falou de muitos temas sem nenhuma profundidade. Então coloco a viola no saco e vou divagar em outro lugar. Mas peço aos meus solitários leitores que frutifiquem a semente desses pensamentos tão diversos. E desejo um bom amanhã a nós viventes!



quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Da Política.


                Quando falo que não gosto de política partidária meio a minha família sempre parece que estou fazendo aquilo para afrontá-los ou para ser diferente. Quando afirmo isto meio às outras pessoas geralmente pareço alienada ou revoltada. Pois bem, dedico algumas linhas agora para a minha defesa. Se recorrermos aos dicionários, a definição de política é a ‘arte de governar os estados e regular as relações que existem entre eles’, se nos aprofundarmos no tema saberemos também do dever que os administradores dos estados tem com as leis que regem seu país, estado, cidade.
                A ideia utópica desta política tendo como base a nossa Constituição Federal muito me agrada. Imaginar uma sociedade justa, pautada na igualdade entre os seres, tendo um administrador com boa-fé em seus objetivos, onde todos têm as mesmas oportunidades e livre acesso à saúde, moradia, alimentação, saneamento, dignidade, trabalho, justiça gratuita e célere, uma sociedade onde todos são iguais em direitos e que o voto é capaz de representar a vontade e as necessidades da maioria, tudo isto me parece uma materialização da perfeição, o paraíso na terra, a melhor invenção humana. Quando nos deparamos com a realidade pouco disto se concretiza (sendo bem otimista). Nossa sociedade é maculada pela corrupção desde tempos remotos, o favoritismo político é visto como algo natural aos olhos da maioria, os interesses privados sempre são colocados na frente dos interesses públicos.
                Por qual motivo isto ainda acontece se nos tempos atuais temos tanta informação? Temos tanta lucidez (aparentemente) de tudo que precisa ser modificado e ainda assim velhos lobos políticos são eleitos. Qual o motivo para estarmos sempre diante da mesma sujeira eleitoral? Pois bem, se isto ainda acontece, a culpa é nossa. Sim caro leitor, a culpa é NOSSA. Afinal quem elege os representantes dos nossos interesses somos nós. Quem não fiscaliza o suficiente a forma de administração dos nossos eleitos somos nós. E pior, quem reelege os mesmos erros somos nós. Não nos falta leis, não nos falta informação, não nos falta opção, o que nos falta é coragem de exercer nosso poder de escolha. O que nos falta é coragem de pensar e formar uma opinião própria. Mas infelizmente, o que também nos falta é independência.
                Tudo bem, a maioria de nós é omisso quanto as suas obrigações de fiscalizador do Estado, mas no instante que depositamos nosso voto de confiança por 4 anos em um candidato, esperamos no mínimo que ele não nos decepcione. A propaganda eleitoral feita pelos mesmos são as cláusulas do contrato que firmamos com o nosso voto. Somos seduzidos pela esperança de dias melhores (ainda que estejamos sendo ‘favoritistas’ a nós mesmos), somos enganados pelas promessas de mudança, pela proposta de fazer diferente que muitos pregam e nada cumprem. Sentimo-nos burros quando mesmo depois de muito escolher e pesquisar o melhor candidato, este se mostra igual a todos os seus antecessores. Perdemos a esperança no mundo, perdemos a esperança nas pessoas. Perdoe-me qualquer candidato bem-intencionado se houver, mas o que nos parece é que todos querem se eleger para ter sua parte corrupta do dinheiro público. Como diria um bom professor de História que tive “nada mais conservador que a oposição no poder, e nada mais liberal que a ‘direita’ na oposição”. A ideia deste pensamento nos remete ao velho filósofo que nos ensinava que o homem era corrompido pelo meio. Nem sempre concordo com este pensamento, mas quando o assunto é politicagem isto tem muita verdade. Por mais “puro” que pareça o candidato, mais cedo ou mais tarde ele se mostra igual. Seja por não conseguir ter força política com suas utopias, ou por gostar da sujeira que encontra.
                A culpa é deles, a culpa é nossa. Eles deveriam honrar o nosso voto, nós deveríamos não nos acomodar. Quando procuramos um candidato que nos beneficie apenas (interesse privado antes do interesse público) estamos sendo corruptos. Quando eles esquecem as promessas de melhoria coletiva e procuram somente benefícios para si estão sendo corruptos. Todos nós precisamos mudar se quisermos ter uma sociedade mais justa, mais próxima do que prega nossa Carta Magna.
                Por fim, aos meus parentes, amigos ou pessoas que me incitem a discutir política, digo que não gosto desta política suja que conheço tão bem, mas ainda acredito que dias melhores poderão vir. Enquanto isto, eu tento fazer o mínimo possível, levar quem lê estas bobagens a pensar no futuro político que estamos escolhendo. Bom 7 de outubro para todos nós!

domingo, 29 de julho de 2012

Saudades do futuro.



A memória de tempos que não vivi, ao lado de alguém que não sei se existe no mundo real.

Muitos poetas falam da saudade do que não se viveu. Saudade até de tempos que não existiram. Mas como se pode ter saudade daquilo que não foi concretizado? Como posso sentir falta de algo que não foi real? Creio que as nossas vidas transcendem a estas frágeis e curtas noções. Creio que podemos sentir saudade da vida inteira que poderia ter sido e não foi.
Pode parecer confuso o que digo, pode parecer uma tentativa frustrada de costurar ideias desconexas, mas meu caro leitor olhe por cima do muro que o trava e viaje um pouco neste meu raciocínio peculiar... Nossa ideia de tempo é frágil e limitada as nossas necessidades básicas diárias, achamos que o tempo é apenas aquilo que nosso relógio marca, esquecemos que o tempo também é protagonista de nossas vidas, um protagonista que nós criamos. Se o tempo é um instante o qual ousamos descrever, significa que ele tem sua abstração. Ele não pode ser limitado àquilo que parece ser. O tempo está associado a momentos que vivemos.
Se o momento que de fato vivemos é tudo aquilo que mexe com nossas emoções e com o que há de mais escondido na alma, nossos sonhos também são momentos que vivemos. Porém, quando sonhamos, estamos numa outra dimensão que não sabemos descrever ao certo, mas que às vezes chamamos de limbo. Se viver é a realidade que nos cerca e que somos capazes de sentir, nosso limbo pode sim ser a nossa realidade. Quantas vezes sonhamos com tamanha força que ao acordar queremos voltar a dormir? Por vezes os sonhos nos consolam, são capazes de nos fazer felizes muito mais que estar acordado. Quando se trata de sonhos tudo é mais abstrato.
Meu confuso leitor, ente tantos conceitos de tempo, sonho, realidade, saudades de tudo isto, e olhando para as primeiras linhas deste texto tentando recapitular o que foi dito, você deve estar perguntando também se posso ter saudades do futuro. Eu afirmo que sim. Se o nosso futuro é um sonho do passado, daqueles que escondemos bem de todo mundo, se este sonho por algum motivo deixa de ser sonhado ou se torna impossível de realizar seja por qual for o motivo, por vezes dá saudade de sonhá-lo. Sinto falta da sensação de bem estar que ele me causava, aqueles sonhos seriam o meu futuro um dia, e se os meus sentimentos são a minha realidade, se a minha realidade é algo tão abstrato quanto minha própria noção de tempo, me perco nas sensações de passado e futuro e posso sim ter saudades do futuro que um dia quis para mim!
Passado, presente e futuro se misturam em nossa mente... Mas ainda assim, como podemos sonhar com o futuro? Os franceses denominam esta sensação de ‘déjà vu’, que em tradução livre significa ‘já visto’. Quando vivemos algo e sentimos a certeza de já ter visto aquela cena, quando conhecemos alguém neste exato momento e temos a sensação de já conhecê-lo, quando visitamos um lugar completamente novo e sentimos que já tínhamos estado lá, todas estas sensações que experimentamos nos deixam perdidos em relação a nossa frágil noção de tempo. O futuro que estava guardado no passado? Nada mais óbvio, afinal o futuro é o nosso reflexo do passado.
                Não seja simplório ao resumir tudo... Não me diga que não pode se ter saudades, por exemplo, de um tênis que não se comprou! Posso sim ter saudades da sensação feliz que a IDEIA de comprar aquele tênis me causou e ele ser meu em devaneio. Posso tê-lo desejado ao ponto de em outra dimensão ele ter sido meu. A realidade não é apenas aquilo que é mostrado na nossa frente todos os dias, a nossa realidade individual é também tudo o que sentimos, sonhamos, desejamos, experimentamos e algumas vezes realizamos. O conceito de realidade quase sempre sai da boca amargurada dos que não sonham. Não se limite a achar que a realidade é apenas o palpável, o visto. Em um mundo de máscaras sociais nunca sabemos o que é realidade ao certo.
                Passado, presente e futuro quase sempre se misturam. Sonho e realidade quase sempre é a mesma coisa. As horas estão mais soltas que o vento. O que nos falta é liberdade para entender. E agora o que me resta é saudade do meu futuro que anda perdido em algum lugar.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Vingando-se da Morte.


                A melhor forma de vingar-se da morte é ter a melhor vida possível. Nada podemos fazer para fugir da indesejada das gentes, mesmo que completemos 100 primaveras, um dia partiremos deste mundo, voltaremos ao mistério de nossa existência, o tempo fará com que fiquemos no ontem. É uma verdade cruel a nós humanos sabermos que um dia ninguém saberá das nossas dores, angústias, felicidades e conquistas do hoje.
Mas afinal, qual o sentido de tudo isto? Qual o sentido desta caminhada rumo ao desconhecido? O que podemos fazer para que tudo valha a pena? O sentido deste caminho é o rumo que damos a ele. O sentido das nossas vidas é aquele que nos faz feliz. O que nos resta a fazer é vivermos todos os momentos que nos fazem bem, nos jogarmos na vida sem contar com o amanhã, afinal não sabemos o que nos reserva o amanhã, talvez o futuro seja apenas o reflexo do que é construído no agora. A nossa fragilidade humana cria expectativas de um amanhã para que nos limitemos, possamos nos manter calmos e conformados, mas meu esperançoso leitor, se nós formos capazes de olhar por cima do muro que nos trava, veremos, não existe nada além do reflexo do agora.
                Por vezes tentamos viver o passado, noutras tentamos viver o futuro, nos perdemos meio as nossas expectativas e tentamos viver todos os dias de uma só vez. Mas não conseguimos. Um dia de cada vez. Só assim aguentamos carregar toda a nossa bagagem, toda a história da nossa existência. Dosar o tempo não é tarefa fácil. Aliás, o que é o tempo? O tempo é a tentativa frustrada do ser humano controlar o amanhã. O tempo é a tentativa sem sucesso de cada um de nós sabermos o que nos reserva a página seguinte. O tempo é a ilusão que criamos a cerca do amanhã. Os dias, o tempo, o futuro, todos são segredos criados por nós, segredos que misteriosamente nos acalmam.
                Solitário leitor, se me perguntares por Deus, se você argumentar dizendo que Deus tem um plano especial para as nossas vidas, eu retruco respondendo com algumas perguntas: E as nossas escolhas, também são planos de Deus? Somos fantoches do abstrato criador de tudo? Não seria egocentrismo achar que com tantos problemas no mundo, tantas doenças incuráveis, tanto caos sobre a terra, Deus se importaria com as bobagens que nos afligem a cada 5 minutos? Não acho que Deus em sua infinita bondade seria tão passivo para assistir tudo e nada fazer, assim como não posso crer que Deus seria um carrasco de castigar nossos pequenos delitos diários. Não posso crer que Deus seria o reflexo semelhante de tamanha imperfeição humana. Não posso crer que nós humanos limitados seríamos capazes de entender Deus. Mas ainda assim creio que a ideia Deus nos faz bem. É muito cruel imaginar que estamos sozinhos, que nada faz sentido, que nada podemos fazer contra a morte, que somos apenas resultado da evolução de outros animais.
                Meio a tantos mistérios existenciais, meio a tantas dores sem motivo, meio a tantas ilusões que nos consolam, seguimos nossas vidas, carregamos a beleza desta chance maravilhosa que temos para fazermos o melhor pelo semelhante e por nós mesmos. Carregamos a chance de sermos felizes todos os dias. E a nossa felicidade, a nossa cura, a nossa paz interior só depende do que construímos dia após dia.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Saudade e seus Reflexos.


                A saudade é o reflexo dos momentos maravilhosos que vivemos. Por vezes ela é o nosso bálsamo, outras ela é a nossa cruz. Sentimos saudade de um tempo, de uma pessoa, de uma música, de um cheiro. Sentimos saudade de um abraço apertado, de um aperto de mão firme, de um sorriso sincero. Sentimos saudade de conversas bobas, de piadas, da voz. E essa saudade nos consola por revivermos aqueles momentos ao lembrar, mas também nos angustia por não podermos vivê-los novamente.
                O que nos resta quando queremos olhar, sentir, conversar, beijar, abraçar alguém outra vez e já não é possível? O que fazer com esta angústia infinita que trava o peito e deixa nossa alma amarga? É uma sensação desesperadora e sufocante. Nada que se diga ou faça adianta. Nada diminui a dor de não ter mais alguém perto de nós, do tempo ter deixado quem amamos no ontem, de estarmos morando em mundos diferentes. A religião nos ensina que sempre teremos quem amamos por perto, que alguém ao encantar-se vem morar em nosso coração e além de nós, quem amamos morará na luz divina, na força criadora do universo, no recomeço de nossa existência. Mas o que resta a nós que ficamos? As lembranças, os ensinamentos, as fotografias, a saudade, sempre a saudade.
                Saudade que nos consome a cada memória. Saudade que nos consola com os risos que foram divididos. Quando eu me lembro dos momentos que vivi ao lado da minha avó penso em tudo que construímos juntas, em tudo que ela me ensinou. Lembro-me das tardes sentadas juntas conversando, lembro-me do amor mutuo que tínhamos, lembro-me dos risos, dos passeios, de dormirmos juntas, de ter sua proteção, de ter a honra de tê-la como avó. Todo este tempo ao lado dela foi maravilhoso. Sinto como se ela estivesse agora sempre ao meu lado, mas esta saudade é sufocante.
                O que me consola, e o que eu espero que console a minha mãe, meu tio, os outros parentes e aqueles que gostavam de sua companhia é o fato de saber que ela foi muito feliz durante toda a vida. Fez o que quis, disse o que quis, recebeu infinitamente o nosso amor, e legou a nós sua felicidade. Ela carregava no bolso sempre uma piada pronta, carregava sempre um sorriso camarada, e trazia sempre aquela força de sertaneja mais forte que a vida e a morte. Força que precisamos ter agora para seguir em frente e fazer o melhor dentro das possibilidades que se apresentem. Força de entender que um dia nos reencontraremos, força de aceitar que apesar da distância que nos separa agora nada irá apagar o que foi vivido ao seu lado.
                Espero minha avó que eu tenha herdado sua força para superar esta saudade sufocante, espero que eu tenha herdado a sua felicidade constante, o seu bom humor para que neste momento de tempestade eu seja capaz de fazer florir paz no coração de nós que ficamos do lado de cá da margem da vida, espero que apesar da despedida a sua alegria de viver nos console. No mais, repito suas últimas palavras para mim, até breve minha querida! 

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A Incerteza da Vida.



                A vida passa muito rápido. Como num piscar de olhos partimos para um mundo desconhecido que está além da nossa compreensão. Gastamos tanto tempo para entender isto, entender a nossa falta de controle sobre o amanhã que por vezes perdemos o foco e deixamos de aproveitar o que é mais importante: o hoje. O amanhã é uma ilusão. O amanhã é um consolo para não vivermos atormentados por não conseguir fazer tudo que gostaríamos no hoje. Permitimo-nos acreditar no amanhã porque precisamos ter a esperança que algum dia será como nós realmente desejamos.
Faça um teste caro leitor solitário, tente programar hoje todo o seu dia seguinte com riqueza de detalhes, seja bem descritivo. O outro dia te provará o que digo agora, nunca, nada na vida é como queremos. Não temos o controle de tudo. Não sabemos de nada diante deste enorme espetáculo da vida. A nossa única certeza é o agora. Pode parecer extremado todas estas palavras desconexas, mas elas carregam a racionalidade de tristes experiências. A maior frustração humana é não saber de si próprio. O outro parece sempre saber mais de nós que nós mesmos. O outro sempre tem mais poder sobre nós e assim tecemos uma rede de conexões que lembram o efeito borboleta.
O outro assiste o nosso nascimento quando não sabemos nada do mundo, o outro nos leva flores ao túmulo quando já não vemos, o outro sabe o que fará com o amor que damos a ele, o outro nos aprova ou reprova na sociedade, o outro nos julga, nos calunia, nos oprime. O outro nos faz feliz por instantes ou pelo resto da vida, o outro, sempre o outro. Se tentarmos nos livrar do outro não sobreviveremos um dia sequer. Afinal ninguém é capaz de sobreviver sozinho por muito tempo. Estamos entregues ao outro, a vida, ao acaso. Dentro desta limitação humana reagimos criando a esperança de que nada acaba aqui. Criamos a religião, criamos um deus a nossa semelhança, criamos o amanhã, criamos o tempo, criamos tudo que alivia esta angústia do nada, de nos sentirmos nada, de vivermos para nada.
Norteamos nossas vidas e fazemos dela a mais bela criação do mundo. Afinal, não podemos desperdiçar a chance que temos de criar certezas meio a tanta incerteza. O que levamos da vida é tudo que construímos enquanto estamos vivos. O que levamos desta passagem rumo a incerteza de algo além, é o amor que cultivamos, os momentos vividos ao lado de quem amamos, o respeito, a solidariedade, os risos, as festas, as viagens. O que levamos da vida é a felicidade que construímos na liberdade que temos. É preciso passar adiante alegria. É preciso construir amor. Deixar ao outro o nosso sorriso sempre. Mesmo nos momentos de dor. Sorrir mesmo quando nada é como queremos afinal estamos aqui para lutar e construir a nossa felicidade.
Não sabemos do dia seguinte. O amanhã é o maior mistério da vida de todos nós. O que nos resta é o hoje. O hoje determina a nossas vidas com uma intensidade poderosa e escorregadia as nossas mãos. E se somos assim tão impotentes precisamos da consciência do que estamos construindo. Precisamos legar o respeito, a amizade, a ternura, o sorriso, a felicidade. Pois será este o consolo para os que amamos no momento de nossa partida, saber que fomos felizes no hoje que vivemos.    

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Hoje toca frevo no céu.


                Hoje tem uma festa arretada no céu. A música que toca é um frevo dos bons. Os anjos ficam todos de pé para celebrarem e receberem a dona da festa...
E com grande alegria saúdam:
- Dona Leide, a senhora chegou!
E ela responde:
- Oxente! Que lugar é esse?
-Esse lugar é a mistura de todos os lugares onde a senhora foi feliz!
-Mas Homi, que história é essa? Ela retruca.
O anjo diz:
- Olhe aqui um pedacinho de Palmares, olhe Recife. Mais ali Fortaleza, São José do Ribamar, São Luis, Teresina, e olhe, Campo Maior. Mas Dona Leide tem um pedaço também de todos os lugares que a senhora quis conhecer e não deu tempo...
- Mas veja só! Ali é o Lemos! Ali são meus irmãos, pai, mãe, até vó Rosa, que saudade que eu estava deles.
- Pois é Dona Leide, está todo mundo aqui!
- Homi do céu! Eu não tô sentindo mais nenhuma dor, veja só! Consigo até dançar esse frevo! Simbóóra oooooi! Oxente, mas eu ainda tô vendo gente chorar, largue de frescura homi! Eu vou agora para essa grande viagem, avie, que eu tenho mais o que fazer!
- Pois  vamos dona Leide, que aqui é só alegria...

...
                E desta pernambucana arretada sempre haverá saudade. Pois ela foi a melhor bisavó, a melhor avó, a melhor mãe e a melhor companhia que todos nós poderíamos ter. Tudo ao seu lado era riso, frevo e festa. E agora que ela encantou-se, veio morar para sempre em nosso coração.
                Muito obrigada pela honra de fazer parte da sua vida. Nós que sempre te amamos infinitamente, te daremos a eternidade em nossas memórias.
Saudade vó.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Devaneios ou Bobagens.



É isto que você faz com a sua única chance neste jogo? Certa vez me vi pensando isto sobre a vida. E quando penso na vida, penso também em religião, amor, sexo, amizades, tantas outras coisas se conectam a pergunta que me fiz. E já que estou divagando em pensamentos, então continuo o meu passeio mental, levando você também, meu querido e solitário leitor.
                Acredito em coisas tolas. Acredito que se eu tenho uma chance de melhorar tudo ao redor não vou dispensá-la. Se todos nós teremos o mesmo fim não vou tratar ninguém diferente por ele ter nascido em outra classe social, de outra cor, muito menos por ele ter mais ou menos idade que eu, o respeito é o mesmo para todos. Se eu tenho uma só chance neste jogo de vida que sempre irá acabar na morte, irei me permitir ser feliz, fazer aquilo que achar justo e a única lei que prevalece é não prejudicar o outro. Permito-me ser livre em todo segundo que eu for viva. É exatamente neste ponto que entra a minha aversão a ter uma religião... Qual a relação? Eu explico. Não me permito aceitar que o meu deus é melhor que o seu deus, que deus é diferente para cada grupo, que eu segregaria alguém ou diria a este alguém que ele está errado em sua fé. Não me permito que alguém igual a mim, me diga o que deus acha melhor para minha vida, afinal se somos todos iguais, se todos nós temos pecados, porque deus não sussurraria ao meu ouvido? Não me permito comprar coisas ‘sagradas’ e rememorar a época das indulgências... Não me permito ser presa em minha fé.
                Não consigo aceitar a ideia de uma religião ditar a quem devo amar ou como devo amar ou o que devo fazer dentro de todas as possibilidades deste amor, seja amor Eros ou Ágape. Não consigo aceitar as amarras sufocantes e repressoras desta ideia sequer. Não aceito que uma religião me diga a quem devo ser simpático ou confiar. Que me ditem com quem devo falar em tom amigável, afinal, se sou amiga ou simpática a alguém é porque aceito seus defeitos e virtudes e o resto não é da minha conta, a vida de cada um só cabe a si mesmo. Da mesma forma que o deus de cada um mora em si. Estes devaneios que precisam ser expostos aliviam uma alma atordoada que busca a paz interior. Poderia eu buscar a Deus para acalmar meus ânimos, mas prefiro buscá-lo na racionalidade dos meus pensamentos.
                É pensando em tantas coisas estranhas e ao mesmo tempo lógicas para mim, que me respondo e consolo, sim é isto que farei com a minha chance neste jogo, afinal é minha única chance. Talvez acreditar em tantas coisas atípicas seja apenas o desespero de uma alma que já não acredita no mundo, ou talvez seja só a vontade de enxergar de fato um mundo melhor algum dia. Enquanto isto, eu sigo calmamente com as minhas bobagens textuais.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Sabedoria dos Bebês e dos Velhos.



Por vezes, levamos muito tempo para perceber que a vida é um ciclo e o que faz a diferença é tudo que desenvolvemos entre as duas pontas da linha da vida. Nascemos frágeis, carentes de cuidado e proteção, admirados do mundo que nos cerca, sensíveis a tudo ao redor. E quando estamos velhos, somos da mesma forma. Necessitamos de cuidados e compreensão, somos sensíveis ao mundo que nos rodeia e temos uma admiração infinita por tudo que foi vivido, e esta admiração sempre vem acompanhada da saudade dos dias que se passaram.
                É lamentável que as pessoas nem sempre enxerguem isto. Acham que aos bebês é necessário ensinar e educar, e aos velhos repreender, pois os últimos já viveram demais e deveriam saber se cuidar sozinhos. Meu caro, minha cara, não é assim que as coisas funcionam! A nossa consciência, o mundo obscuro da nossa mente tem muitos labirintos, alguma vez podemos nos perder neles. Agradeça muito a força criadora do universo se você viver muito e nunca entrar nessa situação especial. Ou se você relutar em aceitar isto imagine comigo um bebê que de repente olha ao seu redor e não reconhece nada, busca pela sua mãe e ela não está perto (entendamos como mãe a base e o alicerce de segurança criado por este bebê), com certeza, este bebê irá chorar. Quando estamos velhos agimos da mesma forma. Gostamos de nos sentir seguros, em nosso ‘ninho’.
                As semelhanças são muitas, infinitas, mas meu caro leitor, o que mais dói são as diferenças de como muitos tratam as duas pontas da vida. Ou pior, o descaso que se faz com as duas pontas da vida. Não é raro se ver cenas onde as pessoas não tem paciência, tampouco compreensão com as fases mais curiosas de uma existência. Não é raro ver cenas de mães que não zelam por seus filhos, mães sem sensibilidade de enxergam que bebês têm vontades, personalidade, carências, necessidades e atitudes próprias. Assim como também não é raro ver cenas de pessoas maltratando ou abandonando velhos por acharem que eles já não são necessários para a vida. Pessoas cegas que não percebem a sabedoria e a beleza dos extremos.
                Um bebê olha todas as pessoas sem distinções de cor, classe social, idade, olha com a pureza de quem só quer absorver o melhor de cada um, sem classificações que colocamos ao longo da vida, criando uma redoma suja. Um velho olha a todos com indiferença de tratamento, já não importa classificar, excluir, segregar, pois eles enxergam que todos nós teremos o mesmo fim. Velhos estão prestes a encarar um mundo novo que nenhum de nós sabe como é e bebês acabaram de embarcar neste mundo novo que eles não faziam ideia de como seria.
                Muitos passam a vida inteira achando que sempre haverá um amanhã jovem e belo, maltratam quem está a sua volta, segregam, se sentem inatingíveis, suas prioridades são facilmente compráveis, vivem dias e dias buscando propósitos vazios, no alvoroço de conquistar objetivos tão fúteis, tão vazios que chega a ser muito triste entender isto. É óbvio caro leitor, que os bens materiais são fundamentais para a sobrevivência neste mundo, mas isso não deveria se tornar o seu único propósito na vida. Todo ciclo tem começo, meio e fim, e como já foi dito a vida é um ciclo, ela terá fim.
                 Se pararmos pra pensar, o que é a vida afinal? Uma corrida cega rumo ao nada? É isto que você faz com a sua única chance neste jogo? O que se leva da vida é a liberdade de ter vivido o que se quis, isto no final é que compensará tudo. Ter amado a quem se quis, ter cuidado de quem nos fez bem, ter ensinado a quem nos odeia que não vale a pena perder tempo com sentimentos vazios, ter melhorado o mundo ao redor para que o nosso legado seja benéfico ao outro. O que se leva da vida é a amizade, o amor, os bons momentos, as atitudes construtoras, o que se pode fazer da vida é ser um pouco de energia construtora para nós mesmos e para o outro.  
                No mais, tudo se torna banal. A pressa de conquistar o material nos cega para perceber que viveremos um mundo espiritual quando partirmos. O que restará será somente a essência das nossas atitudes. Os bebês e os velhos tem esse desprendimento. Os bebês precisam de colo, os velhos de atenção. Talvez nossa sociedade viva tão amarga por não aprender isto com seus bebês e seus velhos. Talvez seja este o segredo da vida, entender o outro, se colocar na situação do outro, para que possamos nos sentir felizes com nós mesmos. Ou talvez isto seja só um devaneio de algum labirinto da minha mente. Na dúvida, tento aproveitar o caminho, antes que ele chegue ao fim e torço muito para que meu filho também possa enxergar isto um dia.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Resposta a um Jovem Burguês


                Depois de divagações e devaneios, inúmeras futilidades, eis que o jovem burguês pergunta o que é a vida à primeira moça que vê passar na rua, como se pudesse enxergar além de seus olhos... E ela responde:
                ‘- Bote a cara lá fora onde o sol é cruel e turvo como a realidade. Venha conhecer o outro lado. Encare que o mundo não é bom nem belo. Sinta nas costas a dor de amanhecer vivo. Saiba o significado do passar dos dias para quem não tem como viver e vive. O que significa a vida para quem nem consegue sobreviver. O valor da vida para os esquecidos, marginalizados e dispensados por todos. O valor da vida para quem se vê com uma vida sem valor. Olhe pela janela. Mais que clichê, ainda há crianças morrendo de fome. Há velhos que carregam a vida [o peso da vida] como algo negociável. Há jovens prostituindo suas manhãs em troca de pão e droga, buscando a ilusão da esperança. Há jovens matando e roubando em busca de preencher o vazio de seus dias. Ainda assim eles insistem em viver, idiotas! Lá fora ainda existem pessoas que acreditam que o mundo pode ser um lugar melhor. Não, não pode. Meu caro, a vida e o mundo são a mesma coisa. O mundo toma forma lentamente a cada escolha da vida de alguém. O meu mundo e o seu mundo são diferentes. Ainda assim estamos aqui. A vida que parece ser boa sempre carrega em si uma mácula qualquer. E a vida que parece ser horrenda carrega em si uma esperança infinita. Para o mundo ser melhor todos teríamos de sofrer e neste mundo existem mais pessoas iguais a você que não sabem sofrer ao menos um instante. O que fazer então?’
                O jovem atormentado não sabia o que pensar. Por qual motivo tal estranha falava tanto dele sem ao menos o conhecer. Por que ela carregava tanta revolta e dor em seu olhar? No meio de seus pensamentos, ecos de uma consciência distante, ela prosseguia:
                ‘-Acorde! Perceba que seu mundo é supérfluo e superficial. Saiba ajudar, saiba ser livre. Não viva entre máscaras. Seja humano, viva. E se esse discurso ainda te incomoda é porque tenho razão ao te olhar assim, como um verme vestido de palhaço, cheio de picardia. Num palco de máscaras sendo fantoche do dinheiro, do ódio e do conformismo. Inutilia Truncat! Inutilia Truncat! Despertai porque isto é a vida! Eu não posso te explicar com palavras todo o resto, mas você e somente você poderá ver e assim entender. Despertai!’
                O pobre jovem burguês estava atordoado e exausto. Este encontro, este choque, este sonho fora pesado demais. Ele se sentia como se acordasse em uma vida que não era a sua. O seu dia não pode ser igual e ele ainda se perguntava o que tinha de real naquelas memórias. De repente, enquanto caminhava pela rua, tem em sua frente a mesma jovem da sua memória.  Ela o olhou e seguiu em frente.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Balé Onírico dos Amantes.


Estávamos próximos, muito próximos... Teu cheiro dançava nos meus sentidos, dançava o nosso ritmo. As lembranças vinham na memória como um filme bom. Todos os beijos, abraços, amores, os risos e gestos montavam uma redoma de cumplicidade. Estávamos próximos. Sentir tua pele, teu calor... Sentir que tudo vale a pena para estar ao teu lado. De repente minha pele e a tua não conseguem se distanciar, precisam sentir o calor que vem da outra.
Estamos envolvidos em que? Qual sentimento nos enlaça? Qual energia nos faz próximos? As cores, as formas, o cheiro, o querer... Minha pele passeia na tua, tuas mãos descobrem o quanto estou perto, nossos cheiros se tornam uma só essência, nossos olhos em admiração plena buscando sempre um ao outro e propondo que nossas lembranças se reavivem.  Tua pele, minha perdição. Teu cheiro embriagador, minha fonte de ternura. De repente, a música que só nós dois ouvimos começa a tocar... Seu ritmo estonteante amarra nossas almas, nos mistura, faz-nos juntos.
Os beijos se perdem no nosso corpo... Esquecemos o mundo a nossa volta, as pessoas, os lugares. Esquecemos circunstancias que nos deixam distantes e queremos estar grudados. Os beijos que esquentam, acalmam, despertam. Passaram-se horas? Dias? Há quanto tempo estamos ali? Saímos pela noite buscando um lugar nosso, uma vida nossa. Mas o ritmo incessante daquela sinfonia entre nós não para. E os beijos, carinhos e prazer trocados só pedem para se repetir.
Quantos princípios nos separam se sempre desejamos o mesmo fim? Esquecemos e procuramos o nosso caminho. Jogo pra trás tudo por essa noite, pelo hoje, pelo momento que poderei sentir novamente tua pele descobrindo os caminhos do meu corpo. Quando espero poder sentir mais uma vez tua pele e a minha incessantemente queimando. Queimando em fogo ardente de desejo. Queimando nossos princípios, nossos motivos. Queimando passado, presente. Queimando e não querendo nada além do corpo do outro. Queimando e reinventando a nossa sinfonia.
Espero que você queira como eu. Espero que você pense em nós como eu penso. Espero a reciprocidade de tanta harmonia meio ao caos. Você continuava ali do meu lado. Nossos pensamentos pareciam gritar e se faziam visíveis. Por que sentir tua pele era sempre tão bom? Seria mais fácil parar a música se ele não fosse prazerosa, compassada, harmônica. Por que teu cheiro ganha meus sentidos sempre?
Nós dois lado a lado. Abraçados, unidos. Nossos carinhos trocados passeando pelo corpo do outro. Nossos beijos desnorteando, aquecendo, envolvendo. A vontade, o querer mais se fazendo incontroláveis. E seguimos assim... Meio a beijos, abraços, carinhos, muito desejo, muita pele. Seguimos assim... Nesse aproximar e afastar, aproximar, afastar, aproximar, perder controle, aproximar, sempre aproximar. Aproximar, descobrir, contemplar, enlouquecer.
E nossa sinfonia segue sem fim... Querendo o outro, passeando no outro, descobrindo o outro. Envolvendo nossos corações no mistério infinito que é a expectativa do amanhã, pelo simples motivo do amanhã sempre nos levar ao mesmo fim. Confesso... Eu não quero deixar de ouvir essa música. 

Partícula de Deus ou Carta de uma Mãe a seu Filho.


A Lucas, com amor.

Quando não temos filhos tudo parece muito fácil e distante. Achamos que as preocupações e paranóias das nossas mães é exagero e que jamais agiríamos igual. Pois bem, até que um dia você se depara com uma realidade diferente e descobre que você também vai ser mãe. Caos na terra. A primeira sensação que se tem é de impotência, principalmente quando você vai ser mãe cedo ou sem planejar.
                Impotência por imaginar como você que sempre teve preocupações banais vai ser responsável por uma vida frágil e cheia de expectativas. Ao tempo que essa impotência invade seus dias, você também se sente diferente, você se sente viva. Invadida por uma partícula de Deus, uma partícula da perfeição divina. É tudo muito estranho, pois você que pouco acredita e tem fé, agora [quase que em desespero]  sente uma necessidade de Deus na sua vida, para acreditar que não está sozinha, para acreditar que tudo vai dar certo e que o ser humano é muito pouco sem um pedaço de luz da criação divina.
                Então você readapta todos os seus hábitos rotineiros, você estranhamente muda e nem nota. Os primeiros dias que se tem a noticia você pensa e pensa e pensa em como será sua vida, o que vai mudar e se sente perdida. Então começa o pré-natal... a emoção da primeira ultrassom, o primeiro mês de vida do seu neném, alguém que vai carregar suas características, que vai aprender valores, brincadeiras e tudo mais que você repassar. Você olha pra tela e fica tentando decifrar o que aquilo tudo significa, então você se dá conta, é o meu filho! É impossível esquecer aquele dia.
                O mundo definitivamente mudou para você e não importa o que aconteça ou o que vão dizer, você vai lutar com todas as suas forças por uma vida que agora é tão dependente de você. A sua alimentação muda, seu corpo muda, seus planos mudam, você muda completamente porque tudo agora é plural. Você tem medo de cada tropeço, tenta corrigir todos os seus erros e tenta preparar o mundo para o SEU filho. Tenta conseguir o melhor meio para ele viver, as pessoas que estarão a sua volta, o que ele vai aprender. É como se você tentasse recolorir e reformar o mundo. Na tentativa de entregar ao fim de 9 meses um mundo perfeito onde ele possa ser muito, muito, muito feliz.
                Você pela primeira vez sente o que é um amor verdadeiro, sem limitações, você entende agora todo o amor que recebeu da sua mãe em cada pequeno detalhe. Os meses vão passando e você se divide entre a ansiedade de conhecer seu filho e de querer ter mais tempo para protegê-lo em si e organizar esse mundo em caos. A emoção da primeira vez que você sente seu filhote se mexer dentro de você, nossa! Você nem é capaz de acreditar... Então se dependesse da sua vontade faria ultrassons todos os dias para saber como está seu bebê, para vê-lo se mexer, para cuidar. Se você adoece o dilema para tomar um remédio é horrível, você se pergunta e pergunta milhões de vezes ao médico se ele tem MESMO certeza que não vai fazer mal nenhum ao neném, se vai ter alguma reação. Se alguém passa fumando perto, você tem vontade de matar a criatura imbecil que não notou que isso pode fazer mal ao seu filho. Bebida nem pensar. Até na hora de comer as besteiras que desejamos compulsivamente você se sente culpada. Larga seu sanduíche favorito. Seu refrigerante favorito parece veneno e bebê-lo te faz quase chorar. Você luta contra seus instintos e vícios só para cuidar do seu filho e quando come essas besteiras fica se sentindo extremamente culpada depois. Você simplesmente acha que enlouqueceu, mas na verdade você chega a uma só conclusão, tudo isso é a prova do quanto você ama infinitamente seu filho.
                Quando a noticia de que você vai ser mãe começa a ser contada aos mais próximos você fica ansiosa para saber a reação deles... você sempre quer que tenham a melhor reação, afinal é um pedaço de você que está sendo gerado. E quando alguém não tem a reação que você esperava você fica louca de raiva a ganha um novo inimigo. Oras, é o seu neném.
                Um dia, numa das várias consultas ao seu médico, você descobre o sexo do bebê, lógico que o amor é o mesmo indistintamente, mas você vai construindo  e conhecendo a cada dia seu filhote e isso te coloca em um estado superiormente interessante. Então agora que você já sabe mais uma característica dele fica sonhando e pensando em tudo. As roupinhas agora serão de um jeito, quem serão seus amigos, quem serão seus amores, você viaja tanto que imagina qual profissão ele terá, quantos filhos ele terá, você pensa tanto que a sua vida agora é ele. Mesmo que você diga que ainda tem vida própria. A sua vida própria agora é dividida com ele, é o seu amigo, o seu querido e ansiosamente esperado herdeiro. Herdeiro de todas as coisas boas que você poderá dá-lo.
                 Você fica imaginando e imaginando tantas coisas... o nome do SEU filho é quase que um enigma existencial, qual nome irá transmitir em poucas letras todos os meus desejos para ele, qual o significado será capaz de explicar o que mais quero que ele tenha, o que espero que ele seja. Você se apega aos sites de significados de nomes, tem que ser o nome mais bonito. Algo único, forte, expressivo e sempre associado a tudo de bom que você sente. É o código que ele carregará a vida inteira, é a identidade do seu filho começando a ser construída.
                Você pensa noites e dias, você sofre e se angustia para passar essa mensagem da melhor forma. Até que depois de muita pesquisa, associações mirabolantes, você dá o veredito... Então agora você já sabe como chamá-lo. E deseja que só coisas boas aconteçam na vida do seu neném tão amado. Que tudo tenha um pedaço da luz divina que invadiu sua vida. Que tudo possa fazê-lo feliz e que cada espinho que apareça na vida dele seja retirado sem dor. Deseja que ele nunca sofra e que se o sofrimento for inevitável, que essa dor seja capaz de fazê-lo crescer.  
                E cada dia você constrói algo mais para deixar a ele... afinal, tudo que você construir será o mundo dele.

sábado, 24 de março de 2012

Reformando Deus ou negando três vezes Deus.





Não acredito em Deus. Mas acredito no divino. Qualquer parte do mundo tem natureza divina, se conceituarmos o divino como a parte sublime, harmônica e espiritual das coisas existentes no universo. O divino está em nós, está nos lugares e no bem. Não posso acreditar em um Deus barbudo, severo e vigilante da vida dos outros, seria muita incompetência e falta do que fazer por parte de um Deus se assim fosse.
                Seria irracional e absurdo render-me a um mito cheio de lacunas, um Deus romanceado que existe com a função única de aplacar nossas dores e criar um universo inteiro para nós somente, isto não seria generosidade, mas sim inutilidade por parte dele. Absurdo e egoísta imaginar que os meus problemas individuais e medíocres fossem abalar todo o universo. Qual lógica há em achar que Deus vai me punir por comer muito; ou por ficar furiosa ao ponto de perder o controle por ver políticos roubando um país inteiro e sentir vontade de matá-los porque eles estão tirando dignidade de crianças, mulheres e idosos? Qual o sentido de imaginar que “Deus” vai me punir severamente por eu ter uma boa noite de amor e sexo antes de casar? Por que serei castigada durante a infinidade dos meus dias por desejar ter uma vida semelhante a do meu próximo e para isto, tenho que economizar todos os meus centavos?
                Não posso acreditar que Deus seria tão medíocre quanto eu. Prefiro imaginar Deus como parte das coisas do Universo, como a parte boa de mim que algumas vezes se manifesta sem eu entender o motivo. A abstração de Deus não pode se limitar a dogmas, hierarquias ou regras castradoras. Não seria imaginar um Deus vazio, mas sim, um Deus ecumênico, um Deus que abraça todos os povos indistintamente sem eleger seu favorito. Um Deus justo e com um senso de justiça superior as nossas concepções humanas.
                Não condeno as Igrejas, não acho que nenhuma delas seja ruim. Acredito que a ideia Igreja consola e acolhe quem precisa de forças para seguir em frente. Mas condeno raivosamente as pessoas medíocres que usam a figura cultural dos templos sacros para lucrar e atormentar a boa-fé de pessoas frágeis. Não condeno Bíblias e suas diversas interpretações, mas me enfureço quando a ideia-base de um livro de sabedoria profunda é confundida com um conjunto de leis burras, que cegamente devo obedecer. Não sou contra nenhum estilo de vida espiritualizado, mas acho absurdamente ditatorial querer convencer toda a humanidade a seguir meu estilo de vida e visão de mundo.
                Somos livres, nascemos livres para fazer escolhas em nosso meio, o cabresto fica para quem não pensa e aceita o óbvio, o fácil, o banal. Somos livres para construir a nós mesmos. Mas dentro da nossa liberdade devemos enxergar a liberdade do próximo, devemos entender que ninguém é melhor ou pior por não ser igual ao que somos. O que constrói a beleza da humanidade é a sua diversidade, cada um ao nascer recebe um espaço para pintar com suas próprias cores. Cada um tem um livro diferente a escrever, uma história impar a contar. Por que as semelhanças não são repetições, mas sim, afinidades. Porém, as afinidades precisam da discordância.
                É só imaginar o que seria do bem sem o mal, da ideia deus sem a ideia diabo, o claro sem o escuro, o dia sem a noite, o fogo sem a água, a inteligência sem a estupidez, o branco sem o preto, o belo sem o feio, a amizade sem a solidão. É só tentar imaginar quem somos e quem seríamos, se nunca tivéssemos encontrado a diversidade em nossas vidas. É preciso pensar. Como construiríamos Deus se não pudéssemos ter essa necessidade de harmonizar e responder? A ideia Deus é uma necessidade humana de preencher lacunas, de aceitar os nossos limites. É a pretensão humana de por regras na liberdade. Mas afinal, o que seria da liberdade sem a prisão?
                Não acredito em Deus. Mas acredito em milagres. Os pequenos milagres que existem consequentes da harmonia ou desarmonia do universo. A sucessão de fatores aleatórios [ou não] que nos fizeram nascer, que nos fizeram sobreviver ao longo da evolução das espécies. A incrível sucessão de fatores que sempre dá uma pequena felicidade a cada um de nós ao menos uma vez na vida, uma felicidade visível ou não aos nossos olhos, uma felicidade que nos faz construir o conceito felicidade.
                Os milagres são essenciais para que o absurdo se faça visível. Os milagres são essenciais para tudo no mundo: para a vida, para a arte, para bem e para o mal. Os milagres bons e os ruins. Mas, solitário leitor, entenda como milagre não só o que a sua igreja prega, enxergue além. Enxergue o milagre em tudo, o milagre que é fenômeno e o milagre que é sensação existencial. O milagre-energia. Os milagres bons que nos enchem de felicidade como o nascer, o respirar, o sentir-se vivo; os milagres ruins como a morte [esse pulo na dúvida e no fim, o maldito passar para lugares invisíveis], a dor, o desespero.
                Se somos antes de qualquer outra coisa energia cósmica, fluente e paradoxal, se a emoção nos chega diante do sensível, se temos aptidões e limites, se somos humanos enfim, para que acreditar em Deus e por que não acreditar em milagres? Por que dar limite ao que temos de melhor, a ousadia? Os opostos entram em equilíbrio é um fato, mas porque temer e imediatamente nos castrar com respostas vazias? Sejamos fecundos em espírito e mente. Sejamos reflexo e propagação do bem, e não de UM deus.
                Sem apologias ou mediocridades, sem preconceitos ou medos. Será mais fácil entender duas regras básicas que as religiões não exercitam, ame o próximo como a ti e entenda que a sua liberdade acaba quando começa a do outro. Trocando em miúdos, entenda que é necessário respeitar a individualidade do outro, o que o outro pensa e é para que você em sua diversidade e individualidade seja respeitado. É preciso dar para receber e isto não é barganha, é justiça. É preciso ser um Deus de bondade infinita para ter um Deus de infinita bondade na sua vida, é preciso se doar ao próximo para ter o próximo ao nosso lado, é preciso reconhecer-se humano e imperfeito para receber compreensão diante dos nossos defeitos, é preciso dar desinteressadamente para receber, sempre, seja o que for. É preciso tentar a perfeição para um dia atingi-la. É para isto que temos uma vida inteira, para construir o bem.
                Estas pequenas atitudes constroem Deus. E por esse motivo não acredito no Deus de ninguém, mas acredito no divino. Não acredito na barganha celeste, mas sim, nos nossos milagres, construídos dia após dia.

Um Pouco de Caos.


Pra ser normal...


Por que as pessoas precisam de religião? Por que a deficiência em relação a sua autonomia? Por que o medo do nada no além-túmulo? Para que Deus? Faz tempo que o ser humano busca responder tantas questões assustadoras... E como não consegue admitir o vazio de sua existência justifica-se religioso e temente a Deus.
                É mais cômodo terceirizar seus vazios. Admitir que Deus não existe, faria a humanidade sem norte. A maior deficiência humana é enfrentar a si e seus medos, é preciso coragem e equilíbrio... Mas quem disse que a maioria das pessoas possui tais atributos? A mediocridade humana é surpreendente. Poucas pessoas conseguem conviver em paz social admitindo não existir um Deus supremo e todo poderoso, seguir suas vidas com propósitos mais interessantes.
                Tamanha indignação é fruto de uma conversa que ouvi certa vez. Um grupo discutia sobre casamentos. E falavam de seus “imensos” propósitos rotineiros. Do quanto precisavam aprender a cozinhar bem, ou que seus maridos tinham direito de ter maior liberdade que elas mulheres, ainda, que o orçamento mensal estava mínimo, do quanto “Deus” as abençoou por arranjar um casamento... Coisas domésticas. Fiquei me perguntando, será que a vida destas pessoas se resume a isso? Arranjar um empreguinho, ter filhos, casar, envelhecer, morrer. Quanto tempo estas pessoas aguentam esta rotina? Uma vida toda? Será que não há um propósito maior para longos e curtos anos de existência?
                Muito me censuram por não ser comum a outras meninas... Já ouvi censuras de toda espécie, tipo: Você é muito livre, não conhece limites... [Há um limite para ser humano?] Poxa, você é mulher, não pode pensar assim... [O meu pensamento é limitado pela condição feminina?] Nossa, você é louca, não crê em Deus... [sou obrigada a ter religião, a acreditar em algo irracional?] Poxa, você mora só, não tem medo? [Medo de mim? Não, eu até gosto de mim...] Você só quer ser diferente... [alguém no mundo é igual?] E a melhor de todas: Você precisa casar e ter filhos. [Preciso?]
                Sinceramente o pensamento simplório de tanta gente que me cerca é assustador. Provinciano, bairrista, infantil, imaturo, medíocre. O resumir da existência humana pobre e tosca. Por que minha vida precisa ser igual? O Cristo que tantos creem teve por acaso uma vida comum a sua época? Casou, teve filhos como mandava sua tradição? Se assim for Igreja, se for pra ser igual, por que divinizar o diferente? Louvemos os iguais então, os que pecam por seguir sua vida com pequenas ambições. É hora de rever conceitos.
                Muitos censuram, julgam, pecam, são avaros, corruptos, dissimulados... e quando encontram a verdade, se assustam e a negam. Pelo visto Cristo, sua vinda a Terra não adiantou muita coisa, melhor não voltar, as coisas estão feias aqui. A verdade ainda assusta, seja ela qual for. Não sou contra os ditos “pecados”, sou contra as pessoas não assumirem quem são. Qual o sentido de existir sem se mostrar... egoísmo consigo, ou seja, não irei dividir eu mesmo? Tudo seria tão mais fácil se assumíssemos que somos uma raça falida que não sustenta seus propósitos e por isso os reduz.
                Aprendi algo que muito me anima todos os dias... Aprendi a sonhar. E, obviamente, se os sonhos são MEUS dou a eles o tamanho que bem entendo. Imensos. Infelizmente até por isto me censuram. Ouço coisas do tipo, você não pode sonhar o impossível? Por quê? Até meus sonhos devem seguir regras? Há algum tempo cansei de tamanha censura... E resolvi fingir ser normal. O problema agora é que na condição de normal as pessoas se aproximam, porém quando enxergam um pouco de quem eu sou, se afastam. Pior é que isso tem me causado um sofrimento difícil de sublimar.
                Abrir mão de quem eu gosto para não assustar. Eis o preço. Será que posso dar calote nesse preço?

Lições de Amor.



No amor e na guerra vale tudo, ouvi certa vez. Mas como saber se é amor pra valer toda uma guerra? Nos caminhos que trilhamos aparecem sempre muitas pessoas, com algumas nos envolvemos, outras deixamos fugir, algumas até preferimos ficar longe, mas quando acontece aquela loucura necessária pra embriagar os sentidos, percebemos, é a pessoa, é amor.
                Talvez ela nem saiba a importância que tem, ou talvez, não significamos o mesmo pra ela, mas sempre sentimos vontade de dar o melhor de nós. Pode-se dizer que é com essa pessoa que construímos os valores na vida que mais respeitamos: a sinceridade, o zelo, a vontade de não falhar nunca, o amor incondicional que aprendemos a dar, a gentileza, a ternura... e tamanha responsabilidade depositada sempre vem acompanhada de mágoas, ou por melhor dizer, dores de amor.
                Essas dores que lembramos por muito tempo e que nos vale como experiência ou expectativa, carregamos conosco sempre, por mais que um dia isto seja negado. Mas nunca chegam a ser dores odiosas, sempre são dores com vontade de ter vivido diferente ou de ter aproveitado mais aquele tempo que se passou junto de quem se gosta. Lamentamo-nos por tudo, brigamos com nós mesmos por não ter vivido tudo que se quis, choramos, enfurecemos, entristecemos, desistimos, persistimos, e o amor sempre lá.
                O que fazer? O que resta? Quando a distância é fruto de erros nossos rodamos o mundo tentando buscar uma saída, rodamos o nosso mundo, ou o mundo que se construiu para quem se ama. Pouco importa se ela vale o esforço, ou se tudo que você faz nem vai ser notado, o que conta mesmo é estar buscando viver tal felicidade que nos acostumamos a ter. Ou que queremos ter. O que realmente importa é amar, exercitar todo o amor. Mas e se ela não aceita o amor? Se ela te proíbe de entregar seu coração a ela? Se você se vê impossibilitado de dar o que há de mais puro e intenso dentro de si?
                Como nada é perfeito o que os resta é aceitar. As circunstâncias que vivemos nos fazem perceber que a vida não é perfeita, e que se bem quisermos tal perfeição teremos de lutar. Lutar para nos tornar pessoas melhores, lutar pelas crenças, lutar pelo que vale a pena, lutar pelos sentimentos e principalmente lutar contra a nossa covardia. O amor não é um sentimento humano, o amor é divino desde o primeiro instante que invade nossa alma. É este o pedaço do céu que carregamos em nós. Seja amor Ágape, amor Eros, o que realmente importa é que seja verdadeiro. E por esta verdade até onde chegaremos?
                Até onde iremos colocar regras no amor, até quando condicionaremos nossa vida inteira ao banal, supérfluo, imperfeito? Até quando seremos capazes de viver sem lutar pelo amor? Até quando renunciaremos o amor? Toda forma de amor nos ensina algo: faz-nos crescer, nos ensina a felicidade, torna-nos sábios, faz de nós experientes, maduros. Então para que fugir disto?
                Quando amamos de verdade, sem egoísmo, sem querer o outro para si e quando a felicidade dele é mais importante e significativa do que a nossa, quando vivemos este altruísmo amoroso, reaprendemos a agir. Pois agora você não quer mais ser dono do outro, mas sim, quer vê-lo em sua liberdade feliz, perto ou longe de si. Você aprende a valorizar cada segundo ao lado do ser amado, a prestar atenção no que ele te diz e a cuidar em não machucá-lo. Zelar e preservar o mundo entre vocês.
                Quando amamos de verdade, não exigimos, apenas recebemos e valorizamos o que o outro nos dá. Sentimo-nos culpados em não sermos os mais perfeitos ou melhores para quem se ama, e reconhecemos isto. Enxergamo-nos fracos e covardes, incapazes. Mas ao mesmo tempo, corajosos, ousados por viver um sentimento em todas as suas possibilidades. Quando é amor queremos dar o melhor, a compreensão, a amizade, a ternura infinita. E lamentamos a brevidade dos dias.
                Quando é amor sincero, a sua história com o outro pode durar menos de um dia, mas será o suficiente para te fazer feliz por muito tempo. Quando é amor, simplesmente amamos. Sem regras, sem moral, sem certezas, apenas amamos e isto basta.

Liberdade de sonhar.




Não busco a perfeição, mas busco todos os dias entender meus erros. É essencial pra todo ser humano o aprendizado, os erros, a dor para crescimento pessoal e espiritual. A perfeição desde o começo dos tempos, sempre foi uma grande utopia humana, o ideal inatingível e distante das nossas mãos. Buscá-la não é um erro, acreditar que há de se atingir um dia é ilusão.
                A perfeição da beleza, das atitudes, do trabalho, das relações humanas, dos sentimentos, do que somos são o querer e nunca ter. Quantas vezes assistimos pessoas próximas a nós [e até nós mesmos] buscando insistentemente refazer algo para que fique “perfeito”, ou por quantas vezes nos punimos por não ter dito a coisa certa, por ter omitido algum gesto, por ter deixado de fazer algo que não é considerado certo, mas que tanto queríamos? Quantas vezes nós, humanos, nos surpreendemos recriminando o próximo por não serem como gostaríamos que fossem ou por não agirem como queríamos? Quantas vezes condenamos o outro por ser diferente e imperfeito, distante do que idealizamos?
                Somos falhos, temos defeitos. Para alguns admitir isto é o fim dos tempos, é a pior acusação já feita. O problema de todos nós, caros mortais, é deixar a nossa querida vaidade de lado e assumir o lado mais óbvio, o humano. Qual o limite que atingiremos por não confessar nossas imperfeições? Por que pagar um preço tão alto? Nunca achei justo deixar de fazer nada por ser imperfeito, apesar de sempre ter zelado por quem amo e correr o risco cruel de machucá-los. Não acho racional abrir mão de coisas por vezes banais, só pelo simples motivo da “sociedade” não aceitar. Se vivemos neste plano terreno uma só vez, se temos vontades, desejos, manias, carências, fraquezas e devaneios, por que não viver cada detalhe de nós mesmos?
                Seria este um ato de rebeldia ou libertação? Escolho a segunda hipótese. Libertar-se de si mesmo. De tudo que construíram por nós quando não tínhamos discernimento nem capacidade de escolha. Libertar-se do banal, comum e simplório. Mas este também é um preço alto, a diferença, caro amigo, está no prazer e satisfação que sentimos ao realizar nossos desejos sacanas, vontades inconfessáveis, taras proibidas, sonhos reprimidos. A diferença consiste em descobrir o prazer da autorrealização, do querer e poder.
                Nós humanos, sofremos muito por encontrar um mundo já pronto, onde nossa opinião pouco conta. Sofremos por não encontrarmos espaço para fazer o que sonhamos, não encontrarmos o que buscamos. Nossa alma limitada ao corpo recusa em aceitar dogmas seculares e diariamente entramos em atrito com o racional [afinal a vida é absurda e irracional!], com o sensato. Nossa alma é subjetiva. Duelamos com nós mesmos ao imaginar tantas possibilidades e tantos limites impostos. Enlouquecemos ao perceber tantas castrações. Estamos diante da realidade que assusta a própria realidade.
                Afinal, qual o limite de nós mesmos? E o principal, como descobrir nossos limites se não lançarmo-nos a prova? Eis a dúvida existencial comum a todos. Faço-me então livre. Dou alforria aos dogmas, as crenças castradoras, aos limites ditatoriais da sociedade, a repressão. Considero-me livre para falar, pensar, imaginar, descobrir coisas maravilhosas que poucos sabem, descobrir até o que não existe fora de mim. Quero estar em prova do bem e do mal. Pois sei que todos nós carregamos deus e diabo na essência. Lanço os dados para o improvável, impossível, inimaginável. Aposto todas as fichas e sei que não vou me arrepender de ser o que quero, de ter sonhos ousados, gigantes, absurdos. Declaro-me livre para errar. E esta confissão me enche de alegria e me traz grandes esperanças.
                E se um dia perder-me em mim, nas minhas vontades, vou ter certeza ainda mais de tudo que quis, vou poder diferenciar meus desejos e meus erros, o que ganhei ou perdi. Vou ter crescido. Quem já sentiu ao menos uma das sensações que falei, bem sabe o quanto se pode ser feliz. Conhecer o proibido. Lembrando de textos bíblicos, recordei-me da Eva no paraíso. Sinceramente acho que se o paraíso e a perfeição fossem tão “perfeitos” e satisfatórios [sendo um pouco redundante] teria ela mordido a maçã proibida? Depois de sua expulsão ditatorial do paraíso ela criou o resto da humanidade [ou nós a criamos?] e nós criamos os pilares para a pregação da palavra de Deus. Então, acho que esta pode ser uma das provas do quanto é bom fazer o que queremos. Com nossas atitudes transgressoras seremos capazes de criar maravilhas, ou quem sabe, recriar toda a humanidade. O que aprendemos com Eva é a rejeitar a perfeição, ela nos cansaria. Precisamos da multiplicidade de ações, dos erros para ser mais feliz, para nos sentir mais completos.
                Sisífo nos ensina algo parecido em seu mito. Todo trabalho quando chega ao fim, precisa de um recomeço, nunca estará perfeito ou completo, sempre relançaremos a pedra, não somente por uma condenação dos deuses, além disso, por uma necessidade que mora em nós. O que enxergamos no alto do monte percorrido por nós é a sensação de que a vertigem nada é se comparado ao caminho trilhado. A perfeição nunca existirá sem os erros, sem as dificuldades, sem os abismos vividos todo dia.
                O que deixo ao leitor é o relato de quem muito erra todos os dias, mas que não tem arrependimentos. Enxergo tudo que vivi como necessário. Realizo-me por viver todas as possibilidades, por dizer mais sim do que não. Tenho consciência de que não sou modelo para ninguém, minhas atitudes nem sempre são as mais sensatas, reconheço minha pretensão e ousadia de tanto falar coisas absurdas a primeira vista. Porém caro leitor, se um dia em sua vida, você se sentir sufocado em si mesmo ou limitado, tente me dar algum crédito, perceba o prazer que há em permitir-se, em dar alforria aos sonhos. Se eu estiver errada em tudo que disse, peço uma só coisa, me perdoe. 

Das duas velas.

...Acenda sempre duas velas: A primeira oferte ao seu Deus, a segunda oferte veementemente aos nossos diabos, afinal você nunca sabe se no dia do Juízo irá para o céu ou para o inferno.


                Ao longo dos tempos, aprendemos o significado de crescer. Não significa apenas adquirir mais idade, mas sim redescobrir significados para tudo a nossa volta. Principalmente o significado das relações que construímos. A importância que esses laços têm em nossas vidas. Aprendemos a pensar mais vezes antes de agir, a ter prudência.
                Tudo que nos cerca mais cedo ou mais tarde terá alguma importância, algum valor adquirido. Seja as relações mais banais com pessoas que por hora nem tem tanta importância para nós ou aqueles que estão nas nossas vidas há um bom tempo. Tudo é redescoberto. É engraçado as situações que o acaso constrói. Para que possamos evoluir e dar valor a Ser humano é preciso entender o subliminar.
                Imaginemos juntos: Alguém do seu cotidiano te odeia por um motivo tolo, mas que para tal esse ódio ou repulsa tem inúmeras justificativas. Pois bem, você pode simplesmente odiar tal pessoa de volta, é mais fácil, você teria um bom argumento, ou ao invés disto, você pode oferecê-lo a simpatia que falta, a cordialidade, a boa vontade, a generosidade. Com o passar do tempo, a vida que ensina a todos nós indistintamente irá ensinar a tal pessoa o quanto somos dependentes uns dos outros e estamos ligados por um vinculo que transcende a tudo: somos humanos. Com o passar do tempo você irá perceber o quanto ganhou; ganhou sabedoria e um novo amigo. Sim, aquela pessoa que você menos imagina pode SIM tornar-se seu amigo.
                É necessário cultivar laços. Amizade é importante em qualquer parte da terra, cordialidade é fundamental para existência do humano. Família então é questão de sobrevivência. E quando falo em família não me refiro a laços consanguíneos, estou me referindo aos laços afetivos que constroem uma família. Muitas vezes você não é amado pela sua linha ancestral ou sucessória como é amado e acolhido por pessoas que se tornam sua família. É curiosa a capacidade humana de agrupar e fortalecer entre os seus aceitos. Família é muito mais que genética, é amor, convivência, aceitação e doação.
                Quando comecei o texto e falei que as duas velas são necessárias não estava fugindo ao assunto, estava falando sobre o mesmo assunto. Para que cultivar inimigos ou julgar se você não sabe o amanhã? Para que não se importar com os seus se você pode ser o alicerce da vida de alguém? Acenda uma vela ao seu Deus, apóie seus amigos, aqueles que gostam de você, cerque-se deles. Mas nunca se esqueça do quanto os nossos diabos precisam de luz, dê uma vela aos mesmos. Se alguém te odeia, sorria. Seja generoso com esta pessoa. Talvez o que ela te direciona de ruim é apenas reflexo do que ela recebe dos outros, seja a luz desta pessoa, desperte nela sabedoria.
                E com estas duas velas acesas torça muito para tudo dar certo. Bom dia.