quinta-feira, 29 de março de 2012

Balé Onírico dos Amantes.


Estávamos próximos, muito próximos... Teu cheiro dançava nos meus sentidos, dançava o nosso ritmo. As lembranças vinham na memória como um filme bom. Todos os beijos, abraços, amores, os risos e gestos montavam uma redoma de cumplicidade. Estávamos próximos. Sentir tua pele, teu calor... Sentir que tudo vale a pena para estar ao teu lado. De repente minha pele e a tua não conseguem se distanciar, precisam sentir o calor que vem da outra.
Estamos envolvidos em que? Qual sentimento nos enlaça? Qual energia nos faz próximos? As cores, as formas, o cheiro, o querer... Minha pele passeia na tua, tuas mãos descobrem o quanto estou perto, nossos cheiros se tornam uma só essência, nossos olhos em admiração plena buscando sempre um ao outro e propondo que nossas lembranças se reavivem.  Tua pele, minha perdição. Teu cheiro embriagador, minha fonte de ternura. De repente, a música que só nós dois ouvimos começa a tocar... Seu ritmo estonteante amarra nossas almas, nos mistura, faz-nos juntos.
Os beijos se perdem no nosso corpo... Esquecemos o mundo a nossa volta, as pessoas, os lugares. Esquecemos circunstancias que nos deixam distantes e queremos estar grudados. Os beijos que esquentam, acalmam, despertam. Passaram-se horas? Dias? Há quanto tempo estamos ali? Saímos pela noite buscando um lugar nosso, uma vida nossa. Mas o ritmo incessante daquela sinfonia entre nós não para. E os beijos, carinhos e prazer trocados só pedem para se repetir.
Quantos princípios nos separam se sempre desejamos o mesmo fim? Esquecemos e procuramos o nosso caminho. Jogo pra trás tudo por essa noite, pelo hoje, pelo momento que poderei sentir novamente tua pele descobrindo os caminhos do meu corpo. Quando espero poder sentir mais uma vez tua pele e a minha incessantemente queimando. Queimando em fogo ardente de desejo. Queimando nossos princípios, nossos motivos. Queimando passado, presente. Queimando e não querendo nada além do corpo do outro. Queimando e reinventando a nossa sinfonia.
Espero que você queira como eu. Espero que você pense em nós como eu penso. Espero a reciprocidade de tanta harmonia meio ao caos. Você continuava ali do meu lado. Nossos pensamentos pareciam gritar e se faziam visíveis. Por que sentir tua pele era sempre tão bom? Seria mais fácil parar a música se ele não fosse prazerosa, compassada, harmônica. Por que teu cheiro ganha meus sentidos sempre?
Nós dois lado a lado. Abraçados, unidos. Nossos carinhos trocados passeando pelo corpo do outro. Nossos beijos desnorteando, aquecendo, envolvendo. A vontade, o querer mais se fazendo incontroláveis. E seguimos assim... Meio a beijos, abraços, carinhos, muito desejo, muita pele. Seguimos assim... Nesse aproximar e afastar, aproximar, afastar, aproximar, perder controle, aproximar, sempre aproximar. Aproximar, descobrir, contemplar, enlouquecer.
E nossa sinfonia segue sem fim... Querendo o outro, passeando no outro, descobrindo o outro. Envolvendo nossos corações no mistério infinito que é a expectativa do amanhã, pelo simples motivo do amanhã sempre nos levar ao mesmo fim. Confesso... Eu não quero deixar de ouvir essa música. 

Partícula de Deus ou Carta de uma Mãe a seu Filho.


A Lucas, com amor.

Quando não temos filhos tudo parece muito fácil e distante. Achamos que as preocupações e paranóias das nossas mães é exagero e que jamais agiríamos igual. Pois bem, até que um dia você se depara com uma realidade diferente e descobre que você também vai ser mãe. Caos na terra. A primeira sensação que se tem é de impotência, principalmente quando você vai ser mãe cedo ou sem planejar.
                Impotência por imaginar como você que sempre teve preocupações banais vai ser responsável por uma vida frágil e cheia de expectativas. Ao tempo que essa impotência invade seus dias, você também se sente diferente, você se sente viva. Invadida por uma partícula de Deus, uma partícula da perfeição divina. É tudo muito estranho, pois você que pouco acredita e tem fé, agora [quase que em desespero]  sente uma necessidade de Deus na sua vida, para acreditar que não está sozinha, para acreditar que tudo vai dar certo e que o ser humano é muito pouco sem um pedaço de luz da criação divina.
                Então você readapta todos os seus hábitos rotineiros, você estranhamente muda e nem nota. Os primeiros dias que se tem a noticia você pensa e pensa e pensa em como será sua vida, o que vai mudar e se sente perdida. Então começa o pré-natal... a emoção da primeira ultrassom, o primeiro mês de vida do seu neném, alguém que vai carregar suas características, que vai aprender valores, brincadeiras e tudo mais que você repassar. Você olha pra tela e fica tentando decifrar o que aquilo tudo significa, então você se dá conta, é o meu filho! É impossível esquecer aquele dia.
                O mundo definitivamente mudou para você e não importa o que aconteça ou o que vão dizer, você vai lutar com todas as suas forças por uma vida que agora é tão dependente de você. A sua alimentação muda, seu corpo muda, seus planos mudam, você muda completamente porque tudo agora é plural. Você tem medo de cada tropeço, tenta corrigir todos os seus erros e tenta preparar o mundo para o SEU filho. Tenta conseguir o melhor meio para ele viver, as pessoas que estarão a sua volta, o que ele vai aprender. É como se você tentasse recolorir e reformar o mundo. Na tentativa de entregar ao fim de 9 meses um mundo perfeito onde ele possa ser muito, muito, muito feliz.
                Você pela primeira vez sente o que é um amor verdadeiro, sem limitações, você entende agora todo o amor que recebeu da sua mãe em cada pequeno detalhe. Os meses vão passando e você se divide entre a ansiedade de conhecer seu filho e de querer ter mais tempo para protegê-lo em si e organizar esse mundo em caos. A emoção da primeira vez que você sente seu filhote se mexer dentro de você, nossa! Você nem é capaz de acreditar... Então se dependesse da sua vontade faria ultrassons todos os dias para saber como está seu bebê, para vê-lo se mexer, para cuidar. Se você adoece o dilema para tomar um remédio é horrível, você se pergunta e pergunta milhões de vezes ao médico se ele tem MESMO certeza que não vai fazer mal nenhum ao neném, se vai ter alguma reação. Se alguém passa fumando perto, você tem vontade de matar a criatura imbecil que não notou que isso pode fazer mal ao seu filho. Bebida nem pensar. Até na hora de comer as besteiras que desejamos compulsivamente você se sente culpada. Larga seu sanduíche favorito. Seu refrigerante favorito parece veneno e bebê-lo te faz quase chorar. Você luta contra seus instintos e vícios só para cuidar do seu filho e quando come essas besteiras fica se sentindo extremamente culpada depois. Você simplesmente acha que enlouqueceu, mas na verdade você chega a uma só conclusão, tudo isso é a prova do quanto você ama infinitamente seu filho.
                Quando a noticia de que você vai ser mãe começa a ser contada aos mais próximos você fica ansiosa para saber a reação deles... você sempre quer que tenham a melhor reação, afinal é um pedaço de você que está sendo gerado. E quando alguém não tem a reação que você esperava você fica louca de raiva a ganha um novo inimigo. Oras, é o seu neném.
                Um dia, numa das várias consultas ao seu médico, você descobre o sexo do bebê, lógico que o amor é o mesmo indistintamente, mas você vai construindo  e conhecendo a cada dia seu filhote e isso te coloca em um estado superiormente interessante. Então agora que você já sabe mais uma característica dele fica sonhando e pensando em tudo. As roupinhas agora serão de um jeito, quem serão seus amigos, quem serão seus amores, você viaja tanto que imagina qual profissão ele terá, quantos filhos ele terá, você pensa tanto que a sua vida agora é ele. Mesmo que você diga que ainda tem vida própria. A sua vida própria agora é dividida com ele, é o seu amigo, o seu querido e ansiosamente esperado herdeiro. Herdeiro de todas as coisas boas que você poderá dá-lo.
                 Você fica imaginando e imaginando tantas coisas... o nome do SEU filho é quase que um enigma existencial, qual nome irá transmitir em poucas letras todos os meus desejos para ele, qual o significado será capaz de explicar o que mais quero que ele tenha, o que espero que ele seja. Você se apega aos sites de significados de nomes, tem que ser o nome mais bonito. Algo único, forte, expressivo e sempre associado a tudo de bom que você sente. É o código que ele carregará a vida inteira, é a identidade do seu filho começando a ser construída.
                Você pensa noites e dias, você sofre e se angustia para passar essa mensagem da melhor forma. Até que depois de muita pesquisa, associações mirabolantes, você dá o veredito... Então agora você já sabe como chamá-lo. E deseja que só coisas boas aconteçam na vida do seu neném tão amado. Que tudo tenha um pedaço da luz divina que invadiu sua vida. Que tudo possa fazê-lo feliz e que cada espinho que apareça na vida dele seja retirado sem dor. Deseja que ele nunca sofra e que se o sofrimento for inevitável, que essa dor seja capaz de fazê-lo crescer.  
                E cada dia você constrói algo mais para deixar a ele... afinal, tudo que você construir será o mundo dele.

sábado, 24 de março de 2012

Reformando Deus ou negando três vezes Deus.





Não acredito em Deus. Mas acredito no divino. Qualquer parte do mundo tem natureza divina, se conceituarmos o divino como a parte sublime, harmônica e espiritual das coisas existentes no universo. O divino está em nós, está nos lugares e no bem. Não posso acreditar em um Deus barbudo, severo e vigilante da vida dos outros, seria muita incompetência e falta do que fazer por parte de um Deus se assim fosse.
                Seria irracional e absurdo render-me a um mito cheio de lacunas, um Deus romanceado que existe com a função única de aplacar nossas dores e criar um universo inteiro para nós somente, isto não seria generosidade, mas sim inutilidade por parte dele. Absurdo e egoísta imaginar que os meus problemas individuais e medíocres fossem abalar todo o universo. Qual lógica há em achar que Deus vai me punir por comer muito; ou por ficar furiosa ao ponto de perder o controle por ver políticos roubando um país inteiro e sentir vontade de matá-los porque eles estão tirando dignidade de crianças, mulheres e idosos? Qual o sentido de imaginar que “Deus” vai me punir severamente por eu ter uma boa noite de amor e sexo antes de casar? Por que serei castigada durante a infinidade dos meus dias por desejar ter uma vida semelhante a do meu próximo e para isto, tenho que economizar todos os meus centavos?
                Não posso acreditar que Deus seria tão medíocre quanto eu. Prefiro imaginar Deus como parte das coisas do Universo, como a parte boa de mim que algumas vezes se manifesta sem eu entender o motivo. A abstração de Deus não pode se limitar a dogmas, hierarquias ou regras castradoras. Não seria imaginar um Deus vazio, mas sim, um Deus ecumênico, um Deus que abraça todos os povos indistintamente sem eleger seu favorito. Um Deus justo e com um senso de justiça superior as nossas concepções humanas.
                Não condeno as Igrejas, não acho que nenhuma delas seja ruim. Acredito que a ideia Igreja consola e acolhe quem precisa de forças para seguir em frente. Mas condeno raivosamente as pessoas medíocres que usam a figura cultural dos templos sacros para lucrar e atormentar a boa-fé de pessoas frágeis. Não condeno Bíblias e suas diversas interpretações, mas me enfureço quando a ideia-base de um livro de sabedoria profunda é confundida com um conjunto de leis burras, que cegamente devo obedecer. Não sou contra nenhum estilo de vida espiritualizado, mas acho absurdamente ditatorial querer convencer toda a humanidade a seguir meu estilo de vida e visão de mundo.
                Somos livres, nascemos livres para fazer escolhas em nosso meio, o cabresto fica para quem não pensa e aceita o óbvio, o fácil, o banal. Somos livres para construir a nós mesmos. Mas dentro da nossa liberdade devemos enxergar a liberdade do próximo, devemos entender que ninguém é melhor ou pior por não ser igual ao que somos. O que constrói a beleza da humanidade é a sua diversidade, cada um ao nascer recebe um espaço para pintar com suas próprias cores. Cada um tem um livro diferente a escrever, uma história impar a contar. Por que as semelhanças não são repetições, mas sim, afinidades. Porém, as afinidades precisam da discordância.
                É só imaginar o que seria do bem sem o mal, da ideia deus sem a ideia diabo, o claro sem o escuro, o dia sem a noite, o fogo sem a água, a inteligência sem a estupidez, o branco sem o preto, o belo sem o feio, a amizade sem a solidão. É só tentar imaginar quem somos e quem seríamos, se nunca tivéssemos encontrado a diversidade em nossas vidas. É preciso pensar. Como construiríamos Deus se não pudéssemos ter essa necessidade de harmonizar e responder? A ideia Deus é uma necessidade humana de preencher lacunas, de aceitar os nossos limites. É a pretensão humana de por regras na liberdade. Mas afinal, o que seria da liberdade sem a prisão?
                Não acredito em Deus. Mas acredito em milagres. Os pequenos milagres que existem consequentes da harmonia ou desarmonia do universo. A sucessão de fatores aleatórios [ou não] que nos fizeram nascer, que nos fizeram sobreviver ao longo da evolução das espécies. A incrível sucessão de fatores que sempre dá uma pequena felicidade a cada um de nós ao menos uma vez na vida, uma felicidade visível ou não aos nossos olhos, uma felicidade que nos faz construir o conceito felicidade.
                Os milagres são essenciais para que o absurdo se faça visível. Os milagres são essenciais para tudo no mundo: para a vida, para a arte, para bem e para o mal. Os milagres bons e os ruins. Mas, solitário leitor, entenda como milagre não só o que a sua igreja prega, enxergue além. Enxergue o milagre em tudo, o milagre que é fenômeno e o milagre que é sensação existencial. O milagre-energia. Os milagres bons que nos enchem de felicidade como o nascer, o respirar, o sentir-se vivo; os milagres ruins como a morte [esse pulo na dúvida e no fim, o maldito passar para lugares invisíveis], a dor, o desespero.
                Se somos antes de qualquer outra coisa energia cósmica, fluente e paradoxal, se a emoção nos chega diante do sensível, se temos aptidões e limites, se somos humanos enfim, para que acreditar em Deus e por que não acreditar em milagres? Por que dar limite ao que temos de melhor, a ousadia? Os opostos entram em equilíbrio é um fato, mas porque temer e imediatamente nos castrar com respostas vazias? Sejamos fecundos em espírito e mente. Sejamos reflexo e propagação do bem, e não de UM deus.
                Sem apologias ou mediocridades, sem preconceitos ou medos. Será mais fácil entender duas regras básicas que as religiões não exercitam, ame o próximo como a ti e entenda que a sua liberdade acaba quando começa a do outro. Trocando em miúdos, entenda que é necessário respeitar a individualidade do outro, o que o outro pensa e é para que você em sua diversidade e individualidade seja respeitado. É preciso dar para receber e isto não é barganha, é justiça. É preciso ser um Deus de bondade infinita para ter um Deus de infinita bondade na sua vida, é preciso se doar ao próximo para ter o próximo ao nosso lado, é preciso reconhecer-se humano e imperfeito para receber compreensão diante dos nossos defeitos, é preciso dar desinteressadamente para receber, sempre, seja o que for. É preciso tentar a perfeição para um dia atingi-la. É para isto que temos uma vida inteira, para construir o bem.
                Estas pequenas atitudes constroem Deus. E por esse motivo não acredito no Deus de ninguém, mas acredito no divino. Não acredito na barganha celeste, mas sim, nos nossos milagres, construídos dia após dia.

Um Pouco de Caos.


Pra ser normal...


Por que as pessoas precisam de religião? Por que a deficiência em relação a sua autonomia? Por que o medo do nada no além-túmulo? Para que Deus? Faz tempo que o ser humano busca responder tantas questões assustadoras... E como não consegue admitir o vazio de sua existência justifica-se religioso e temente a Deus.
                É mais cômodo terceirizar seus vazios. Admitir que Deus não existe, faria a humanidade sem norte. A maior deficiência humana é enfrentar a si e seus medos, é preciso coragem e equilíbrio... Mas quem disse que a maioria das pessoas possui tais atributos? A mediocridade humana é surpreendente. Poucas pessoas conseguem conviver em paz social admitindo não existir um Deus supremo e todo poderoso, seguir suas vidas com propósitos mais interessantes.
                Tamanha indignação é fruto de uma conversa que ouvi certa vez. Um grupo discutia sobre casamentos. E falavam de seus “imensos” propósitos rotineiros. Do quanto precisavam aprender a cozinhar bem, ou que seus maridos tinham direito de ter maior liberdade que elas mulheres, ainda, que o orçamento mensal estava mínimo, do quanto “Deus” as abençoou por arranjar um casamento... Coisas domésticas. Fiquei me perguntando, será que a vida destas pessoas se resume a isso? Arranjar um empreguinho, ter filhos, casar, envelhecer, morrer. Quanto tempo estas pessoas aguentam esta rotina? Uma vida toda? Será que não há um propósito maior para longos e curtos anos de existência?
                Muito me censuram por não ser comum a outras meninas... Já ouvi censuras de toda espécie, tipo: Você é muito livre, não conhece limites... [Há um limite para ser humano?] Poxa, você é mulher, não pode pensar assim... [O meu pensamento é limitado pela condição feminina?] Nossa, você é louca, não crê em Deus... [sou obrigada a ter religião, a acreditar em algo irracional?] Poxa, você mora só, não tem medo? [Medo de mim? Não, eu até gosto de mim...] Você só quer ser diferente... [alguém no mundo é igual?] E a melhor de todas: Você precisa casar e ter filhos. [Preciso?]
                Sinceramente o pensamento simplório de tanta gente que me cerca é assustador. Provinciano, bairrista, infantil, imaturo, medíocre. O resumir da existência humana pobre e tosca. Por que minha vida precisa ser igual? O Cristo que tantos creem teve por acaso uma vida comum a sua época? Casou, teve filhos como mandava sua tradição? Se assim for Igreja, se for pra ser igual, por que divinizar o diferente? Louvemos os iguais então, os que pecam por seguir sua vida com pequenas ambições. É hora de rever conceitos.
                Muitos censuram, julgam, pecam, são avaros, corruptos, dissimulados... e quando encontram a verdade, se assustam e a negam. Pelo visto Cristo, sua vinda a Terra não adiantou muita coisa, melhor não voltar, as coisas estão feias aqui. A verdade ainda assusta, seja ela qual for. Não sou contra os ditos “pecados”, sou contra as pessoas não assumirem quem são. Qual o sentido de existir sem se mostrar... egoísmo consigo, ou seja, não irei dividir eu mesmo? Tudo seria tão mais fácil se assumíssemos que somos uma raça falida que não sustenta seus propósitos e por isso os reduz.
                Aprendi algo que muito me anima todos os dias... Aprendi a sonhar. E, obviamente, se os sonhos são MEUS dou a eles o tamanho que bem entendo. Imensos. Infelizmente até por isto me censuram. Ouço coisas do tipo, você não pode sonhar o impossível? Por quê? Até meus sonhos devem seguir regras? Há algum tempo cansei de tamanha censura... E resolvi fingir ser normal. O problema agora é que na condição de normal as pessoas se aproximam, porém quando enxergam um pouco de quem eu sou, se afastam. Pior é que isso tem me causado um sofrimento difícil de sublimar.
                Abrir mão de quem eu gosto para não assustar. Eis o preço. Será que posso dar calote nesse preço?

Lições de Amor.



No amor e na guerra vale tudo, ouvi certa vez. Mas como saber se é amor pra valer toda uma guerra? Nos caminhos que trilhamos aparecem sempre muitas pessoas, com algumas nos envolvemos, outras deixamos fugir, algumas até preferimos ficar longe, mas quando acontece aquela loucura necessária pra embriagar os sentidos, percebemos, é a pessoa, é amor.
                Talvez ela nem saiba a importância que tem, ou talvez, não significamos o mesmo pra ela, mas sempre sentimos vontade de dar o melhor de nós. Pode-se dizer que é com essa pessoa que construímos os valores na vida que mais respeitamos: a sinceridade, o zelo, a vontade de não falhar nunca, o amor incondicional que aprendemos a dar, a gentileza, a ternura... e tamanha responsabilidade depositada sempre vem acompanhada de mágoas, ou por melhor dizer, dores de amor.
                Essas dores que lembramos por muito tempo e que nos vale como experiência ou expectativa, carregamos conosco sempre, por mais que um dia isto seja negado. Mas nunca chegam a ser dores odiosas, sempre são dores com vontade de ter vivido diferente ou de ter aproveitado mais aquele tempo que se passou junto de quem se gosta. Lamentamo-nos por tudo, brigamos com nós mesmos por não ter vivido tudo que se quis, choramos, enfurecemos, entristecemos, desistimos, persistimos, e o amor sempre lá.
                O que fazer? O que resta? Quando a distância é fruto de erros nossos rodamos o mundo tentando buscar uma saída, rodamos o nosso mundo, ou o mundo que se construiu para quem se ama. Pouco importa se ela vale o esforço, ou se tudo que você faz nem vai ser notado, o que conta mesmo é estar buscando viver tal felicidade que nos acostumamos a ter. Ou que queremos ter. O que realmente importa é amar, exercitar todo o amor. Mas e se ela não aceita o amor? Se ela te proíbe de entregar seu coração a ela? Se você se vê impossibilitado de dar o que há de mais puro e intenso dentro de si?
                Como nada é perfeito o que os resta é aceitar. As circunstâncias que vivemos nos fazem perceber que a vida não é perfeita, e que se bem quisermos tal perfeição teremos de lutar. Lutar para nos tornar pessoas melhores, lutar pelas crenças, lutar pelo que vale a pena, lutar pelos sentimentos e principalmente lutar contra a nossa covardia. O amor não é um sentimento humano, o amor é divino desde o primeiro instante que invade nossa alma. É este o pedaço do céu que carregamos em nós. Seja amor Ágape, amor Eros, o que realmente importa é que seja verdadeiro. E por esta verdade até onde chegaremos?
                Até onde iremos colocar regras no amor, até quando condicionaremos nossa vida inteira ao banal, supérfluo, imperfeito? Até quando seremos capazes de viver sem lutar pelo amor? Até quando renunciaremos o amor? Toda forma de amor nos ensina algo: faz-nos crescer, nos ensina a felicidade, torna-nos sábios, faz de nós experientes, maduros. Então para que fugir disto?
                Quando amamos de verdade, sem egoísmo, sem querer o outro para si e quando a felicidade dele é mais importante e significativa do que a nossa, quando vivemos este altruísmo amoroso, reaprendemos a agir. Pois agora você não quer mais ser dono do outro, mas sim, quer vê-lo em sua liberdade feliz, perto ou longe de si. Você aprende a valorizar cada segundo ao lado do ser amado, a prestar atenção no que ele te diz e a cuidar em não machucá-lo. Zelar e preservar o mundo entre vocês.
                Quando amamos de verdade, não exigimos, apenas recebemos e valorizamos o que o outro nos dá. Sentimo-nos culpados em não sermos os mais perfeitos ou melhores para quem se ama, e reconhecemos isto. Enxergamo-nos fracos e covardes, incapazes. Mas ao mesmo tempo, corajosos, ousados por viver um sentimento em todas as suas possibilidades. Quando é amor queremos dar o melhor, a compreensão, a amizade, a ternura infinita. E lamentamos a brevidade dos dias.
                Quando é amor sincero, a sua história com o outro pode durar menos de um dia, mas será o suficiente para te fazer feliz por muito tempo. Quando é amor, simplesmente amamos. Sem regras, sem moral, sem certezas, apenas amamos e isto basta.

Liberdade de sonhar.




Não busco a perfeição, mas busco todos os dias entender meus erros. É essencial pra todo ser humano o aprendizado, os erros, a dor para crescimento pessoal e espiritual. A perfeição desde o começo dos tempos, sempre foi uma grande utopia humana, o ideal inatingível e distante das nossas mãos. Buscá-la não é um erro, acreditar que há de se atingir um dia é ilusão.
                A perfeição da beleza, das atitudes, do trabalho, das relações humanas, dos sentimentos, do que somos são o querer e nunca ter. Quantas vezes assistimos pessoas próximas a nós [e até nós mesmos] buscando insistentemente refazer algo para que fique “perfeito”, ou por quantas vezes nos punimos por não ter dito a coisa certa, por ter omitido algum gesto, por ter deixado de fazer algo que não é considerado certo, mas que tanto queríamos? Quantas vezes nós, humanos, nos surpreendemos recriminando o próximo por não serem como gostaríamos que fossem ou por não agirem como queríamos? Quantas vezes condenamos o outro por ser diferente e imperfeito, distante do que idealizamos?
                Somos falhos, temos defeitos. Para alguns admitir isto é o fim dos tempos, é a pior acusação já feita. O problema de todos nós, caros mortais, é deixar a nossa querida vaidade de lado e assumir o lado mais óbvio, o humano. Qual o limite que atingiremos por não confessar nossas imperfeições? Por que pagar um preço tão alto? Nunca achei justo deixar de fazer nada por ser imperfeito, apesar de sempre ter zelado por quem amo e correr o risco cruel de machucá-los. Não acho racional abrir mão de coisas por vezes banais, só pelo simples motivo da “sociedade” não aceitar. Se vivemos neste plano terreno uma só vez, se temos vontades, desejos, manias, carências, fraquezas e devaneios, por que não viver cada detalhe de nós mesmos?
                Seria este um ato de rebeldia ou libertação? Escolho a segunda hipótese. Libertar-se de si mesmo. De tudo que construíram por nós quando não tínhamos discernimento nem capacidade de escolha. Libertar-se do banal, comum e simplório. Mas este também é um preço alto, a diferença, caro amigo, está no prazer e satisfação que sentimos ao realizar nossos desejos sacanas, vontades inconfessáveis, taras proibidas, sonhos reprimidos. A diferença consiste em descobrir o prazer da autorrealização, do querer e poder.
                Nós humanos, sofremos muito por encontrar um mundo já pronto, onde nossa opinião pouco conta. Sofremos por não encontrarmos espaço para fazer o que sonhamos, não encontrarmos o que buscamos. Nossa alma limitada ao corpo recusa em aceitar dogmas seculares e diariamente entramos em atrito com o racional [afinal a vida é absurda e irracional!], com o sensato. Nossa alma é subjetiva. Duelamos com nós mesmos ao imaginar tantas possibilidades e tantos limites impostos. Enlouquecemos ao perceber tantas castrações. Estamos diante da realidade que assusta a própria realidade.
                Afinal, qual o limite de nós mesmos? E o principal, como descobrir nossos limites se não lançarmo-nos a prova? Eis a dúvida existencial comum a todos. Faço-me então livre. Dou alforria aos dogmas, as crenças castradoras, aos limites ditatoriais da sociedade, a repressão. Considero-me livre para falar, pensar, imaginar, descobrir coisas maravilhosas que poucos sabem, descobrir até o que não existe fora de mim. Quero estar em prova do bem e do mal. Pois sei que todos nós carregamos deus e diabo na essência. Lanço os dados para o improvável, impossível, inimaginável. Aposto todas as fichas e sei que não vou me arrepender de ser o que quero, de ter sonhos ousados, gigantes, absurdos. Declaro-me livre para errar. E esta confissão me enche de alegria e me traz grandes esperanças.
                E se um dia perder-me em mim, nas minhas vontades, vou ter certeza ainda mais de tudo que quis, vou poder diferenciar meus desejos e meus erros, o que ganhei ou perdi. Vou ter crescido. Quem já sentiu ao menos uma das sensações que falei, bem sabe o quanto se pode ser feliz. Conhecer o proibido. Lembrando de textos bíblicos, recordei-me da Eva no paraíso. Sinceramente acho que se o paraíso e a perfeição fossem tão “perfeitos” e satisfatórios [sendo um pouco redundante] teria ela mordido a maçã proibida? Depois de sua expulsão ditatorial do paraíso ela criou o resto da humanidade [ou nós a criamos?] e nós criamos os pilares para a pregação da palavra de Deus. Então, acho que esta pode ser uma das provas do quanto é bom fazer o que queremos. Com nossas atitudes transgressoras seremos capazes de criar maravilhas, ou quem sabe, recriar toda a humanidade. O que aprendemos com Eva é a rejeitar a perfeição, ela nos cansaria. Precisamos da multiplicidade de ações, dos erros para ser mais feliz, para nos sentir mais completos.
                Sisífo nos ensina algo parecido em seu mito. Todo trabalho quando chega ao fim, precisa de um recomeço, nunca estará perfeito ou completo, sempre relançaremos a pedra, não somente por uma condenação dos deuses, além disso, por uma necessidade que mora em nós. O que enxergamos no alto do monte percorrido por nós é a sensação de que a vertigem nada é se comparado ao caminho trilhado. A perfeição nunca existirá sem os erros, sem as dificuldades, sem os abismos vividos todo dia.
                O que deixo ao leitor é o relato de quem muito erra todos os dias, mas que não tem arrependimentos. Enxergo tudo que vivi como necessário. Realizo-me por viver todas as possibilidades, por dizer mais sim do que não. Tenho consciência de que não sou modelo para ninguém, minhas atitudes nem sempre são as mais sensatas, reconheço minha pretensão e ousadia de tanto falar coisas absurdas a primeira vista. Porém caro leitor, se um dia em sua vida, você se sentir sufocado em si mesmo ou limitado, tente me dar algum crédito, perceba o prazer que há em permitir-se, em dar alforria aos sonhos. Se eu estiver errada em tudo que disse, peço uma só coisa, me perdoe. 

Das duas velas.

...Acenda sempre duas velas: A primeira oferte ao seu Deus, a segunda oferte veementemente aos nossos diabos, afinal você nunca sabe se no dia do Juízo irá para o céu ou para o inferno.


                Ao longo dos tempos, aprendemos o significado de crescer. Não significa apenas adquirir mais idade, mas sim redescobrir significados para tudo a nossa volta. Principalmente o significado das relações que construímos. A importância que esses laços têm em nossas vidas. Aprendemos a pensar mais vezes antes de agir, a ter prudência.
                Tudo que nos cerca mais cedo ou mais tarde terá alguma importância, algum valor adquirido. Seja as relações mais banais com pessoas que por hora nem tem tanta importância para nós ou aqueles que estão nas nossas vidas há um bom tempo. Tudo é redescoberto. É engraçado as situações que o acaso constrói. Para que possamos evoluir e dar valor a Ser humano é preciso entender o subliminar.
                Imaginemos juntos: Alguém do seu cotidiano te odeia por um motivo tolo, mas que para tal esse ódio ou repulsa tem inúmeras justificativas. Pois bem, você pode simplesmente odiar tal pessoa de volta, é mais fácil, você teria um bom argumento, ou ao invés disto, você pode oferecê-lo a simpatia que falta, a cordialidade, a boa vontade, a generosidade. Com o passar do tempo, a vida que ensina a todos nós indistintamente irá ensinar a tal pessoa o quanto somos dependentes uns dos outros e estamos ligados por um vinculo que transcende a tudo: somos humanos. Com o passar do tempo você irá perceber o quanto ganhou; ganhou sabedoria e um novo amigo. Sim, aquela pessoa que você menos imagina pode SIM tornar-se seu amigo.
                É necessário cultivar laços. Amizade é importante em qualquer parte da terra, cordialidade é fundamental para existência do humano. Família então é questão de sobrevivência. E quando falo em família não me refiro a laços consanguíneos, estou me referindo aos laços afetivos que constroem uma família. Muitas vezes você não é amado pela sua linha ancestral ou sucessória como é amado e acolhido por pessoas que se tornam sua família. É curiosa a capacidade humana de agrupar e fortalecer entre os seus aceitos. Família é muito mais que genética, é amor, convivência, aceitação e doação.
                Quando comecei o texto e falei que as duas velas são necessárias não estava fugindo ao assunto, estava falando sobre o mesmo assunto. Para que cultivar inimigos ou julgar se você não sabe o amanhã? Para que não se importar com os seus se você pode ser o alicerce da vida de alguém? Acenda uma vela ao seu Deus, apóie seus amigos, aqueles que gostam de você, cerque-se deles. Mas nunca se esqueça do quanto os nossos diabos precisam de luz, dê uma vela aos mesmos. Se alguém te odeia, sorria. Seja generoso com esta pessoa. Talvez o que ela te direciona de ruim é apenas reflexo do que ela recebe dos outros, seja a luz desta pessoa, desperte nela sabedoria.
                E com estas duas velas acesas torça muito para tudo dar certo. Bom dia.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Tudo necessita de um começo.

Pois bem, há um bom tempo que reluto em não criar um blog ou um espaço qualquer onde eu pudesse publicar as bobagens que já escrevi, uma timidez ou egoísmo qualquer os prende unicamente a mim. Mas acho que já está na hora de tornar livres as palavras que escondo na gaveta. Talvez meus amigos leiam por uma espécie de solidariedade, talvez meus inimigos leiam por curiosidade, ou talvez ninguém leia, e acreditando verdadeiramente na derradeira hipótese, mato dois coelhos em uma só cajadada, faço o que quero e ainda sim escondo timidamente o que escrevo, afinal ninguém irá ler além das duas primeiras linhas. 
Mas meus queridos, se realmente ousarem se lançar ao final dos textos, saibam que são apenas bobagens, algumas tentativas frustradas de crônicas, contos ou uma literatura vadia mesmo! São apenas palavras soltas! Um pouco de prosa aqui, versinhos ali, mas essencialmente PALAVRAS, palavras que insistem em ganhar vida, que querem perder o cheiro de morfo, palavras que necessitam de liberdade para amenizar a mão e a cabeça que as escreve.
Perdoem qualquer radicalismo, perdoem qualquer loucura. Mas tais palavras ganharão hoje o que sempre pediram desde o primeiro instante... Liberdade.


Boa Noite.