sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Retrato de Palavras.

                Abandonei o ninho muito cedo. O desmame precoce e o pé na estrada fizeram-me enxergar a vida de uma forma diferente. Nunca tive conto de fadas como modelo de vida nem como história de ninar. Nunca me pouparam da capacidade humana de ser desumano. Deram-me uma vida em preto e branco e se eu quisesse cores que eu mesma buscasse. Que eu lutasse. Que eu colorisse os meus dias.
                Assim como essa forma crua de ter sido apresentada a vida me machuca também me torna forte. Mais forte que os outros quase sempre. Desenvolvi a sensibilidade e a frieza de encarar momentos ruins. Desenvolvi a sensibilidade e a alegria de agradecer aos momentos bons. Nunca tive o que se chama de vida normal. Por mais que algumas vezes eu tenha curiosidade de conhecer um pouco desta normalidade, sempre fico receosa e volto para a loucura dos meus dias facilmente. Não quero ser a mulher comum que a sociedade espera. Não quero ser refém de conceitos nem alimentar expectativas nas pessoas sem que eu possa corresponder. Se eu empenho minha palavra, cumpro. Cedo ou tarde.
                Ao buscar as cores do meu dia enfrento muitos momentos amargos e sozinhos. Uma amargura que me faz enxergar além. Não consigo vivem no nimbo de ilusões ou de depositar grandes expectativas em nada, um dia de cada vez, assim é melhor. Mas perceba que viver um dia de cada vez traz secura e frustração. Não me permito sonhar muito, talvez porque desde sempre meus sonhos nunca se realizaram da forma egoística que eu sonhara. Não vivi tradições, fui rejeitada muitas vezes, abandonada algumas, nem por isto sou vítima do mundo. A vida é a vida. Se eu quero as cores, busco. Se eu tenho metas, executo. Se eu quero algo, construo. Ainda assim consigo me sentir muito feliz. É a felicidade que o suor traz. É a felicidade de agradecer a qualquer coisa que aconteça. É a felicidade de por tantas vezes ser surpreendida com o lado bom de pessoas boas.
                Conheci muito do mundo e cultivo a ambição de conhecer mais. Não falo de paisagens bonitas, mas de culturas diferentes, pessoas diferentes (boas e más), situações diferentes. Testar meus limites e conseguir me superar. Já vivi muita coisa pra idade que tenho, passei por situações que não desejo a ninguém, vivi momentos que gostaria de eternizá-los, experimentei, errei, machuquei, fui boa e má. E quero mais. Talvez eu tenha vivido mais que muita gente bem mais velha e me orgulho disto. Não gosto de uma zona de conforto por muito tempo. Não pense caro leitor que quando falo destas experiências eu me refiro a festinhas legais ou amigos vazios, estou falando de vida real. De conviver com gente real de todas as idades e que me fizeram aprender muito. De aprender a resolver meus problemas, não ter ninguém me consolando ou me esperando pra almoçar. De nem ter o que almoçar algumas tantas vezes. De escolher liberdade e independência e sentir ainda hoje a dor e o prazer que elas nos dão. De lutar para ser independente e ver o quanto é difícil (e impossível algumas vezes).
                Mas mesmo entre a dor e o prazer dessas lutas constantes, buscar as cores da vida! Valorizar a luz do dia e aproveitar a escuridão da noite. Sentir a água do riacho nos pés e ter a secura sufocante na alma. Pintar de paixão os amores, pintar de lealdade cada amizade construída, pintar de ódio qualquer ingratidão, pintar de dedicação e empenho todo trabalho, pintar de gratidão os dias vividos, pintar de cinza as memórias e emoldura-las na parede para lembrar que foi passado, mas é presente. Montar a aquarela da vida a cada segundo.
               Viajo com facilidade entre passado e presente. Deixo ao futuro as experiências para tentar não cometer os mesmos erros, não custa nada tentar um pouco de perfeição. E quando leio o tecido formado por estas palavras, vejo que tudo valeu a pena ser vivido. Tento apagar as cores que dou a algumas memórias, mas elas são tão vivas que insistem em viver. E com tantos retalhos de palavras, vou me reinventando a cada parágrafo, a cada esquina, a cada dia. Não sei como será o dia de amanhã, ninguém sabe e pouco me importa saber do amanhã. Afinal eu tenho o hoje para construir. Tenho um trabalho para dedicar o meu esforço, uma profissão para buscar conhecimento, um filho para me fazer ser alguém melhor todos os dias, uma família para dedicar zelo e atenção, amigos para ser leal, tenho obrigações a cumprir e uma alma para alimentar. Com tantas cores assim é impossível sofrer como o amanhã.
                Não gosto de falar de mim, mas é preciso gritar vez ou outra para esvaziar a cabeça e conseguir dormir. Por hoje basta. 3:50H da manhã, boa noite (ou bom dia!).            

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Amor.

...em agradecimento a todos os dias de amor vivido e por viver.

                O Amor verdadeiro espera o tempo que for para sentir a felicidade, para ser completo. O amor tem suas raízes firmes no coração e é leal a si mesmo, não prescreve, não rotula, não prende o outro ao seu egoísmo. Sente saudade estando do lado, sente mil sensações, tem mil medos e ainda assim é o mais forte e maravilhoso dos sentimentos. O Amor quando é Amor nasce no coração sem olhar para a aparência, para a personalidade, para o mundo lá fora.
                O que resta a qualquer um de nós alcançados pelo amor é vivê-lo. Não importa como. Não importa em que situação. O amor de verdade transborda, não adianta sufocá-lo, não adianta tentar controlar. Feliz de nós humanos que conhecemos o amor, mesmo que uma vez na vida, podemos assim dizer que a vida é completa, podemos ver que tudo vale a pena. Amor é qualquer forma de cuidado, zelo e telepatia construída com alguém. É a esperança de ver o outro ao dobrar a esquina, é cuidar do outro enquanto ele nem percebe. É a lembrança dos momentos bons querendo revivê-los. Lembrar-se da dor que você sentiu e que o outro sentiu e agradecer por ela ter passado. O amor são as miudezas que guardamos no coração, as miudezas que guardamos na gaveta para sentir um pedaço do momento vivido.
                Mesmo com tantas definições continuamos a sentir tamanho sentimento sem definição, afinal quais palavras seriam capazes de enlaçar e rotular um sentimento tão grande assim? Olho no fundo dos teus olhos com a gratidão de todas as horas vividas, a gratidão por estar na sua vida. Os relógios podem marcar um tempo abstrato, a vida pode nos envelhecer dia após dia, tudo pode nos aproximar ou separar, mas este amor não passa e nunca será passado. Um amor que rasga o peito e transborda no olhar, emudece as palavras. Um amor que castiga, consola, cuida e vive. Um amor que brinca com o tempo, que desregula qualquer lógica do tempo. Um amor santo e pecador.
                Bom repetir tantas vezes que é amor, para que nunca sobre dúvidas do quanto é verdadeiro. Melhor ainda saber que passam os anos, passam dias, passam horas e este sentimento cresce, envolve e está sempre presente. Um amor que sobrevive a tantas adversidades que se reinventa a cada situação. E quem passar e olhar para aquele casal pensará com seus botões “são loucos!”, olhará novamente e se renderá “são felizes!”. Olhe, cuide e sinta todos os dias nós dois. E o que me resta é te pedir para estar sempre na sua vida.
                E olhar as pessoas na rua, e olhar os passos sozinhos, e olhar tudo ao redor não tem a mesma alegria se você não está ali. E sentir um perfume, e olhar um caminho, e lembrar-me de todos os momentos... São miudezas que guardo a cada dia com você. Quanto tempo se passou desde o primeiro olhar? Cinco anos, dez anos, uma vida inteira? Quantas vidas nós teremos para viver este amor? Quanta lógica quebrada, quantos caminhos reinventados? O impossível aconteceu! E assim, não adianta tentar rotular, entender, explicar. O que vale a pena é viver e ser feliz do jeito que for possível. A felicidade está sempre pronta para ser vivida se você está disposto a vivê-la.       
                E o Amor, com seu tempo surreal, com suas horas abstratas, continua sendo generoso com nós dois. Permitindo que possamos viver dia após dia, do jeito que for possível, lado a lado. O amor continua fazendo-nos felizes. Apesar de tudo e acima de tudo. E a espera sedenta um do outro, ainda que estejamos lado a lado, continua alimentando nossas almas. E o zelo cultivado, ainda que distante, continua cuidando de perto um do outro. E as horas e a espera e o calor na alma, continua mantendo-nos vivos. Então, depois de ter a lucidez de tantas sensações, só me resta agradecer a vida e aos caminhos percorridos por ter você comigo.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Fé e seus Desdobramentos.

                A fé é algo curioso. Um sentimento inexplicável. Uma paz intransponível. Não falo somente da fé direcionada a religiões diversas, falo da fé que carregamos na essência. Fé é todo o sentimento que te leva além de si mesmo. Que te faz transcender a um lado misterioso que você carrega em si. É aquela persistência quando ninguém ao redor vê algum motivo ou possibilidade de dar certo, é o não desistir mesmo sem forças. É acreditar além de qualquer lógica.
                Tenho um amigo que adora cantarolar ‘vai dar tudo certo!’ mesmo quando tudo dá errado, por vezes me perguntei por qual motivo ele repetia tanto aquela música se não tinha mais como as coisas darem certo, se toda a lógica ao redor já tinha mostrado que não daria certo. Mas ao perguntá-lo comecei a indagar os motivos de tamanho otimismo...  É preciso ter fé para seguir em frente todos os dias. Nem sempre a vida é generosa como esperamos, mas se temos fé persistimos e continuamos acreditando, nós realizamos o inimaginável. Se você tiver a curiosidade de pesquisar a raiz etimológica da palavra fé, encontrará o significado “ (do latim fides, fidelidade) é a firme opinião de que algo é verdade, sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação, pela absoluta confiança que depositamos nesta ideia ou fonte de transmissão.”, pois bem, fé não é religião. Fé é a sua capacidade de acreditar.
                A capacidade de acreditar em um ser superior que harmoniza o universo é que faz nascer uma religião. E poucas coisas no mundo conseguem ser mais belas que a capacidade humana de acreditar no divino. Acreditar em uma paz utópica, em uma fortaleza onipresente, em um guardião companheiro em todos os momentos. É maravilhoso ter esse dom de acreditar, e nos torna pessoas melhores, mais tolerantes, mais altruístas.
Pois bem, mas o que fizeram da fé nas religiões? Tornaram um sentimento-dom em uma guerra de poder e intolerância. Uma briga para saber qual deus é o verdadeiro, uma competição para chegar mais facilmente ao ‘céu’. Acreditar em um deus já te torna alguém melhor e já te salva das desgraças do mundo, mas deturparam a fé em nome do egoísmo de interesses mundanos. Cegaram a fé, amordaçaram a fé.
Esta semana foi o encerramento da JMJ (Jornada Mundial da Juventude) e pude acompanhar pela TV cenas que me emocionaram e que me enojaram. Foi muito lindo ver milhões de pessoas louvando e professando sua fé, mesmo para mim, que não tenho religião e não sigo ritos religiosos, fiquei feliz em saber que a ideia de um mundo mais santo possa mobilizar tantas pessoas. Mas também vi cenas que me chocaram, insisto, mesmo não professando nenhuma religião. Um grupo de ateus protestando contra a visita do papa, líder católico, com atos de vandalismo e total desrespeito.
Não acho que masturbação em público com objetos sacros para alguns seja o melhor protesto contra nada, não é por você não ter uma religião que vai insultar a do outro, fazendo isto você estará sendo mais opressor e carrasco que qualquer religião. Você estará sendo violento e mais agressor que qualquer líder fascista, afinal você estará achando que o seu mundo e a sua falta de fé é o que deve ser aceito pela maioria. Você estará impondo sua opinião e qualquer imposição traz consigo a opressão. Radicais religiosos e radicais ateus precisam entender que fé é algo tão pessoal, algo que te deixa em paz. E respeito é essencial para a vida em sociedade entre qualquer ser vivo. Tudo bem que você ACREDITE em deus com todas as suas forças, tudo bem que você NÃO ACREDITE em deus com todas as suas forças, mas deixe que o espaço do outro exista, deixe que a fé do outro seja livre de imposições.
            A fé deve libertar o espírito e alimentar a alma com uma força capaz de transpor a si mesmo. A fé deveria ser o bálsamo que te liberta. Pena que ainda existem pessoas tão cegas e intolerantes que conseguem tornar feio o belo.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Da Revolução e outros feitos.


                O dia mais temido pelos governantes chegou... Depois de um longo inverno de manifestações, as camadas sociais se uniram para ter voz. Pegaram suas armas: ideias, coragem, sonho e foram encarar a realidade do nosso país. Acordaram para a realidade que nos envergonha desde que fomos colonizados. Perceberam que sem luta não há justiça, não há paz, não há cidadania. Finalmente o grande dia chegou! Infelizmente, como em toda revolução, há os que apoiam os ditadores, há aqueles que acham que nada irá mudar, há os que adiam a luta por desmerecê-la. Não nos incomodemos com estes, serão os primeiros a bajular quem tiver o poder, e gente assim, nem merece nossos ouvidos.
                Senti-me muito orgulhosa na noite de ontem, assistindo as cenas de gente que lutava pela esperança de dias melhores em nosso país. Não era um manifesto pelo preço das passagens como vivenciamos ano passado em algumas cidades, ou um manifesto isolado dos inconformados com essa sujeira, que convivemos há tantos anos; era um despertar. Infelizmente também como em toda revolução, houve os extremistas que acreditam mais na força de uma tapa (ou depredação) do que na força das ideias. O fato é que a força das ideias e da união de um povo falou mais alto. Estamos vivenciando há vários dias o despertar da voz popular, a volta da nossa força que se sustenta em justiça, cidadania, igualdade, honestidade.
                Quem diz que o povo brasileiro é corrupto e que gosta de políticos corruptos é um alienado. Alguém que pensa assim foi oprimido e teve sua voz arrancada. Como todo agressor faz com sua vítima, o governo sujo tenta fazer o povo acreditar que é o grande culpado pela sujeira e corrupção praticada pela minoria dominante e opressora. O povo não gosta de sujeira, ele apenas acredita e tem boa-fé quanto aos canalhas eleitos que traem o voto recebido. O povo sempre deixou claro o quanto sonha com um país justo, sem miséria, sem analfabetismo, sem segregação. Tanto que a maior qualidade do nosso país é o nosso povo! A grande crueldade desses bandidos que deixaram nosso país como está (repleto de enormes problemas sociais) são as promessas feitas e as medidas resolutivas de curta duração executadas. Fazem os eleitores acreditar em sua bondade e retidão moral para depois (somente depois) mostrarem quem são. E o povo oprimido e alienado acredita e por mais 4 anos sofre. Ainda bem, que a educação e senso crítico foram democratizados, ambos por tanto tempo distanciados dos marginalizados da sociedade, agora estão acessíveis e avançando a largos passos rumo ao alcance de todos.
                Obviamente, nunca haverá um consenso quanto às revoluções... Ainda bem! Isto prova a nossa liberdade de expressão e pensamento! Mas o sentimento que moveu aquelas milhares de pessoas ontem não morrerá tão fácil, nem tão cedo. Posso dizer ao meu filho que o mundo está ficando melhor, que não me envergonharei da realidade que será entregue a ele. Pois um povo que clama pelos seus direitos, um povo que reage às opressões é um povo que merece o respeito de todos. Obrigada a todos os manifestantes da noite de ontem, até mesmo aos que se excederam (afinal, convivemos por tanto tempo com os excessos da roubalheira e bandidagem na nossa política, que um pouco de vandalismo não fará mal a ninguém!), muito obrigada por transformar o nosso país. E dia 20 nos aguarde! Tomara que o nosso 20, possa ser lembrado como o dia que o Piauí acordou! Boa esperança a todos nós!

sábado, 15 de junho de 2013

Página de Diário.


...lembrando-me de um dia qualquer.

                Minha memória é meu maior algoz. Por tantas vezes já fui criticada por me lembrar de tudo. Por me lembrar das dores, das maiores alegrias, dos momentos de ternura, pelos motivos de gratidão ou de rejeição. Acredito que lembrar faz parte da construção da nossa vida, é uma forma de recriar o momento que foi vivido. Nossas memórias são a bagagem que carregamos na vida, é o que trazemos para nos fazer sobreviver diante dos caminhos que escolhemos.
                Mas como posso esquecer tudo aquilo que vivi? Por qual motivo eu iria apagar tantas experiências, emoções, sensações? Se algo foi ruim carrego como aprendizado, se foi bom será meu oásis imaginário. Preciso de um passado para ser quem eu sou no presente, preciso de um futuro para acreditar, para ter fé em dias de felicidade. E o que resta ao presente é viver tudo que se quer viver, viver o que se escolhe, viver o que dá pra viver. Talvez por este motivo eu não entenda bem as pessoas depressivas, acho que a depressão é a falta de lucidez, a falta da consciência da grande oportunidade que nos foi dada ao nascer. A vida é maravilhosa por pior que sejam as circunstâncias nas quais se vive. Temos a chance valiosa de lutar para mudar o que nos faz mal, a chance de conquistar amores, grandes felicidades, tentar realizar nossos sonhos. Não podemos esperar dos outros tudo aquilo que cabe a nós sermos ou fazermos. Não podemos esperar do outro os motivos para a nossa felicidade. O outro já tem sua vida para viver e não pode ser refém das nossas expectativas. Não podemos cobrar que o outro se torne alguém que idealizamos sozinhos. O problema é que muitas vezes as pessoas se acomodam e desistem das suas lutas.    
                Constroem ao seu redor redomas, limites, frustrações alheias, deixam-se manipular pelas religiões, pelos padrões sociais, pelas regras de tudo que se imagine e esquecem-se do principal, a sua felicidade. Ser feliz não é ter todo dinheiro do mundo, ter as melhores roupas ou os melhores carros. Ser feliz é estar livre, é vestir o que se tem, ir aonde se pode ir, estar com quem se quer estar, fazer o que dá vontade e sentir aquela paz no coração. Ser feliz é estar em paz. Não interessam os problemas, ou as contas, ou os prazos, todo mundo tem obrigações. O que realmente interessa é a consciência que só temos essa chance de fazermos as coisas darem certo, e precisamos aproveitá-la antes que caia a tarde sobre nós. E neste ponto volto ao princípio do texto, a memória. É tão valioso lembrar, lembrarmo-nos dos momentos que se viveu, afinal, em momentos de dor a memória lembra que é possível ser feliz, mesmo que por poucos instantes, ou então lembra-nos que é necessário fugir dos mesmos erros, ou que se deve lutar para mudar a realidade.
                Perdoe-me se não esqueço meu passado, mas se assim o fizer deixarei de ser eu. Cultivo sentimentos às memórias que tenho, cultivo a ternura aos bons momentos, a raiva aos que me machucaram e a gratidão aos que me ensinaram. Não tente me mudar, talvez essa seja a minha maior virtude. Não tente me prender nas suas frustrações ou recalques; não tente me domesticar, me pacificar, sou sujeito ativo apenas da minha própria vida, não tento modificar ninguém por capricho. E agora, antes que estas palavras virem livro de autoajuda coloco a caneta em um canto e vou viver o que eu quero.

Perdoem-me poucos leitores...

                Quanto de vida se passou desde o último texto?... Acho que caberiam várias vidas e histórias desde então. Desculpem-me poucos leitores por tamanho tempo de abstinência textual, tentei tantos rabiscos, tentei codificar meus escritos, tentei esconder meus sentimentos, tentei fingir que estas palavras não eram minhas, tentei fugir do meu reflexo no espelho... Mas não podemos fugir de nós mesmos! Foi a maior lição que aprendi nos últimos tempos (ou por assim dizer, reaprendi!).
                Então, volto a atormentá-los com minha tormenta constante... Escrever para fluir o que guardo em mim, o que penso no disfarçado barulho que faço. Escrever para ser feliz, para existir no mundo, ou simplesmente, escrever para curar as feridas, para conversar com quem lê, para fazer o que amo.

                Espero que vocês, meus amigos generosos ou inimigos curiosos que irão ler os textos que estão por vir, possam ter tempo para chegar ao fim de cada texto, ou paciência para terminá-los. E que venham as palavras!

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Do que não foi bom.


                Existem tempos em nossas vidas que o melhor a fazer é esquecê-los. Certos momentos, certas datas e até um ano inteiro. De fato, sou adepta da teoria que tudo o que é ruim traz algo bom, seja aprendizado ou recompensa. Mas infelizmente não é da minha natureza esquecer, nem o que é bom, tampouco o que foi ruim. Já disse isto várias vezes aos meus poucos leitores... Mas sempre volto a este ponto. Para pessoas com a minha ‘natureza’ esquecer é um aprendizado dolorido.
                Não torno os momentos ruins uma obsessão da minha vida, mas os carrego sempre no bolso. O fato é que hoje estou divagando sobre os momentos que vivemos e suas peculiaridades... A força de cada momento e principalmente a força do tempo. Um segundo, uma frase, uma esquina que dobramos muda o curso de nossa história. Em um segundo podemos encontrar amigos maravilhosos que mesmo ausentes fisicamente sabemos que podemos contar sempre com eles, haja o que houver. Podemos encontrar ou perder o amor de nossas vidas. Podemos fazer tudo dar certo ou errado. Podemos perder a amizade de alguém, ganhar a admiração, ganhar ou perder o mundo inteiro. O tempo é um senhor absoluto que a todos carrega em seus braços, os guiando para um mistério ainda maior que a própria vida.
                Estes mistérios que transcendem a existência humana, os momentos vividos com ardor e o resultado que se tem ao divagar entre eles carregam uma força em si que seria medíocre da minha parte tentar definir. Confesso que tento ser imune aos fantasmas que tenho acumulado em momentos de dor. Tento a alquimia de transformá-los sempre em algo que me faça feliz, mas por vezes, essa atitude me faz sentir irreconhecível. O que é ruim tem surtido o efeito de me dar mais gana e paixão para desesperadamente alcançar minha realização de vida, ainda que eu saiba que sempre haverá algo a realizar. Assim como Sísifo, persisto em subir montanhas carregando pedras gigantescas e ao vislumbrar o topo derrubo-as ao fim da ladeira por perceber que aquela pedra precisa ser aperfeiçoada com a nova subida. Ou eu mesma preciso perseguir a perfeição durante a cíclica caminhada. As esquinas da minha caminhada tem sido sufocantes, desgastantes, e por várias vezes tem lapidado o que sou. Espero que esses momentos vividos de força obscura ou nobre não deformem o que guardo de bom. Mas se deformarem, eu espero saber renascer.
                Esta catarse de vida a que me proponho ao encarar meus diabos, é uma forma de libertação, afinal como podemos seguir em frente se encontramos abismos, lacunas, enigmas em nosso passado? Seguir em frente e aceitar a dúvida? A dúvida existe para ser solucionada. Então se faz necessário ao menos uma vez na vida olhar a tudo que passou. Lamentar se for preciso e só então seguir em frente. Este rabisco de análise do que somos é necessário para conhecermos nossa essência. Então diante da nítida imagem no espelho, encarando o retrato fiel (ainda que oculto) do que somos, poderemos nos desapegar do que não é necessário.
                Seremos livres para aceitar o tempo, aceitar que muita ferida jamais cicatrizará e que tamanha complexidade é o que se tem de mais normal entre nós humanos. Quem sabe ao alcançar tal utopia eu possa olhar para minhas memórias quase esquecidas e dizer que elas já não me fazem mal. 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Aquele Amor Marginal.


                Zeram os cronômetros... E reiniciam a contagem de um tempo infinito que não cabe em mim. Lembranças vivas de um passado cotidiano que ainda não aprendi a conviver. Desculpe confuso leitor, se inicio assim nossa conversa... Mas existem fatos e sentimentos que transcendem qualquer narração. Hoje repenso e divago sobre os amores perdidos; Amores frustrados que insistem em não morrer, amor que não se limita a convenção de um relacionamento, um amor humano apenas. Não falo do amor puro que vivemos livremente, falo do amor marginalizado que nem veio a nascer.
                Por vezes guardamos expectativas enormes, doamos sonhos a quem não quer ser sonhado, idealizamos noites e dias com alguém, contamos cada segundo somente para ter a oportunidade de rever aquele ser, sentir seu cheiro, dar um abraço apertado, conversar... E quando a vida conspira para que isto aconteça, simplesmente travamos. Perdemos controle sobre nossos sentidos, sobre nossa voz, sobre nossas vontades e nada fazemos ou dizemos, deixamos a tão sonhada oportunidade escapar por entre os dedos, deixamos tudo em vão. Ficamos inertes diante do amor vencido pelas adversidades.
                Quem dera se tivéssemos controle dos dias... Existem tantas histórias lindas que mereciam uma chance de ao menos ser conversada. Tanto se vive sem viver, tanto se sonha em vão, tanto se perde do que nos faz feliz. É uma constante lamentação olhar para trás e perceber o rumo que uma parte de nós tomou. Talvez tudo tenha acontecido da melhor forma que foi possível, mas sempre restará a gana de querer um pouco mais. Não sei se o meu solitário leitor já viveu um amor vão, mas reafirmo meu amigo, estes sentimentos nos marcam mais do que deveriam, destroem um pouco da nossa capacidade de sonhar. É muito complexo especular o passado e o futuro, olhar para o que ficou no ontem nos dá uma nostalgia enorme e olhar para tudo que está pela frente nos mata de ansiedade. Tento me prender ao agora, mas uma alma cheia de tormenta e divagações jamais conseguirá aquietar-se.
                O amor se manifesta de tantas formas que nos confunde. Olhamos para um filho com um olhar de amor protetor, olhamos para a mãe com um olhar de amor gratidão, olhamos para os amigos com um amor confiança, olhamos para um companheiro com um amor ternura, olhamos para tudo o que poderia ter sido e não foi com um olhar de amor marginal. Uso a palavra-sentimento Amor com a malícia de confundir e incitar aos poucos que leem estas frases confusas. Confundir-se em seus sentimentos e incitá-los a ter uma capacidade de amar sem taxatividades. Amamos o que conhecemos e o que desconhecemos. Amamos ao algoz e ao salvador. Amamos sem motivos ou com todos os motivos. Repetindo o poeta, o amor cabe em si. Mas precisamos libertar nosso coração. Disse certa vez que carrego ódios que nem mil vidas bastariam para aliviá-los, mas carrego também amores que nem todo o universo seria suficiente para demonstrá-lo. E dedico estas palavras confusas a aliviar um pouco da raiva que carrego... Raiva de acreditar quando não poderia. Sonhar quando não deveria. Calar quando tudo que eu mais queria era falar.  
                Imagino que cada dia nos reserva uma surpresa rumo a algo melhor e estranho a nossa percepção atual. Então com a fé em dias melhores, fico com a tácita torcida de rever, conversar, sonhar e aliviar o coração. Fico com a silenciosa torcida de perceber que nenhum amor será vão enquanto antes de tudo, possamos amar a nós mesmos. E perceber que tudo aquilo que nos destrói a alma também nos faz renascer mais fortes e gananciosos de felicidade. Fica a ousada torcida de acertar contas com a vida!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Dulcíssima Responsabilidade.


      Tenho visto e vivido cada coisa nesse mundo... Entre as minhas tantas divagações está uma observação peculiar: a educação que os pais dos últimos tempos têm dado aos seus filhos. Depois de ser mãe um mundo novo descortinou-se a minha frente. Tenho percebido falhas no mundo que antes eram absolutamente normais para mim. Tenho ficado sensível a tentativa de melhorar tudo a minha volta na tentativa de apresentar um mundo melhor para o meu filho.
Pois bem, o que me incomoda nesses últimos tempos, é a relutância em dar responsabilidades aos filhos que alguns pais têm e pior, acham que isto é uma boa educação, estão protegendo para dar caráter. Calma, confuso leitor, vou me explicar! Exemplificando: quando crianças, os pais pagam babás para ter paciência com seus filhos ao invés de eles mesmos cuidarem, ensinarem limites, gastarem seus dias cultivando o caráter de um pequeno ser. Se o filho criança quer um brinquedo caro, os pais modernos simplesmente compram, antes de ensinarem o valor do dinheiro, antes de ensinar seus filhos a brincar com outras crianças, antes de estimularem a imaginação, coordenação motora, o corpo do filho.
Os pais modernos quando tem filhos adolescentes proíbem namoros, ou a todo custo dizem pros seus filhos usarem contraceptivos ininterruptamente, pregam que bebês estragam vidas e outras várias barbaridades. Fazem isto antes mesmo de ensinar que DST’s muitas vezes não tem cura, antes de ensinarem que relacionamentos exigem parceria, lealdade, confiança, respeito; antes de ensinarem que filhos precisam do amor dos pais, zelo, cuidado, entre tantas outras responsabilidades que só os pais podem prover.
Pais modernos, quando tem filhos jovens adultos, pregam que os mesmos tem de aproveitar a vida, estar em festas, não se apegar a ninguém, ter seu foco unicamente em ganhar muito dinheiro. Os mesmos pais que evitam que seus filhos arquem com as responsabilidades de seus atos ou conquistem seus objetivos por mérito próprio. Os mesmos pais que alimentam manias infantis nos seus filhos já adultos. Então já crescido e formado, este filho tão “bem criado” pelos pais modernos não tem noção prática da vida. Não sabem o valor do esforço, da dignidade. Acham que tudo é comprável, tudo é alcançável, tudo é permitido. Acham que sentimento é algo ridículo, que amizades são voláteis e que, como moramos no “país do jeitinho” para tudo haverá uma forma de se safar da responsabilidade. Afinal, seus pais modernos ensinaram que responsabilidade é algo ruim, que trabalho deve ser burlado, que amigos podem ser comprados assim como os brinquedos caros da infância.
Desculpe Lucas, serei sempre uma mãe bem antiga. E eu espero que um dia você entenda os valores que quero te repassar. Aprendi com a diversidade de realidades que convivi valores que nem sempre encontro nos dias de hoje. Aprendi que não importa as circunstâncias que um filho venha ao mundo, ele sempre deverá ser amado por sua mãe. Aprendi que antes do nosso bem estar devemos pensar no bem estar de quem amamos; que generosidade e altruísmo nos fazem mais felizes que a roupa cara da moda. Aprendi que amigos de verdade é um presente valioso da vida. Sei que responsabilidade, trabalho e esforço nos tornam dignos todos os dias enquanto vivermos, e que trabalho é algo maravilhoso mesmo que mal remunerado. Aprendi que nem tudo tem um jeito, nem todo problema tem solução e que para ser forte é preciso aprender a conviver com isto, e entender que nem tudo depende de nós por mais que tenhamos garra. Entender que no mundo também existem pessoas más e que não podemos ser cordeiros benevolentes 24 horas por dia. Assim como não podemos ter malícia 24 horas por dia.
Aprendi ainda que um filho é a melhor responsabilidade que podemos ter. Que o sorriso da nossa cria é mais valioso que um carro importado, que o choro acalentado e um abraço depois do nosso bebê cair nos faz sentir úteis e fortes para sempre e que é melhor ficar em casa brincando num sábado a noite do que a balada agitada da moda.
Talvez eu tenha enxergado um mundo atípico, ou talvez eu tenha nascido na época errada, não sei ao certo. O fato é que me sinto deslocada por gostar de responsabilidades, que me sinto estranha por não largar meu filho com o primeiro adulto que aparece só para estar na balada. Sinto-me diferente, mudada e não sei até que ponto isto me fará bem. O que eu sei é que mesmo sentindo falta de algumas festas de vez em quando, amo estar com o Lucas e com as minhas responsabilidades e isto me faz feliz. Depois desta confissão só me resta torcer para que os pais fiquem mais caretas... Quem sabe o mundo volte a ter pessoas com mais essência e menos aparência.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Contos Modernos



Ao desejo de dias melhores no futuro para todos nós.

         Minha filhinha, eu vou te contar uma história... Era uma vez uma princesa, ela nascera há alguns anos. Tinha tudo pra ser uma criança qualquer, não fosse o fato de que ela viria se tornar uma mulher extremamente peculiar. Isso mesmo, peculiar. Você deve estar se perguntando qual a razão deste adjetivo... Pois bem, porque sem receio de errar, até o presente momento, ela é uma mulher que provou não vir ao mundo para ser mais uma... Veio para ser "ELA"!
A primeira vez que vi esta jovem foi algumas décadas atrás, quando estudamos na mesma escola. Na época não nos tornamos amigos, no máximo conhecidos de escola e como eu me arrependo de não ter me aproximado dela! Eu mudei de escola, e algum tempo depois reencontramo-nos, agora já adolescentes. Continuamos sem nenhuma proximidade. Então algum tempo depois eu ainda não tinha contato algum com ela, mas eu sabia que havia se transformado em uma linda mulher. Por birra do destino estivemos nos mesmos lugares por vezes até começarmos a nos falar, voltamos a nos ver e desde então... Bem, acho que naquele momento, a condição de "apenas conhecidos" havia se dissipado. A partir de então, já não consigo classificar o que somos. Nós somos amigos mas eu sei que esta é uma classificação paupérrima, afinal o sentimento que cabe em momentos tão desencontrados é enorme.
Mas aonde o senhor quer chegar papai? Esta história não faz sentido algum. Disse a filha confusa ao seu pai. E o pai respondeu: Meu amor, eu sei que você é uma criança inteligente, é a melhor amiga que o papai poderia ter, é a rainha do meu coração. Essa princesa da história é um antigo amor do papai que nunca pode ser vivido. Eu amava muito sua mãe, por isso você nasceu, mas mamãe e papai não eram mais felizes juntos... E o papai reencontrou a princesa da história e ela quer te conhecer.
          Depois de alguma negociação entre filha e pai, o jantar aconteceu e mais uma família se reinventou.

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         Família tem sido um tema recorrente nos meus últimos textos. Cada vez que penso nas infinitas possibilidades que nossa sociedade atual pode nos apresentar ao conceito de família fascino-me ainda mais. Que bom que os tempos mudaram! Viva o novo e suas possibilidades! Hoje em dia o conceito de família reforça ainda mais o que eu sempre soube... O que realmente importa entre os que dividem o mesmo teto é o amor.
         Um amor livre de hipocrisias, de preconceitos, um amor mais puro. Na situação hipotética do ‘conto moderno’ acima, é a demonstração de mais uma das infinitas possibilidades que a família tem hoje em dia. Infelizmente ainda existem dinossauros em nossa sociedade que se mostram verdadeiros paladinos da moral e dos bons costumes. Mas meus queridos, o que é moral hoje em dia? O que é moralmente aceitável em dias de nudez explicita, de criminosos eleitos pelo povo, de corrupção como sinônimo de esperteza? Pois bem, meio as minhas divagações sobre felicidade e temas afins só posso concluir que o único norte que ainda nos salva e purifica é o amor. O Amor aos ideais, amor aos humanos. É disso que precisamos. Vivemos em um tempo onde é tão fácil chamar alguém de idiota, dizer que odeia, e tão difícil abrir o coração para dizer ‘eu te amo’ e se entregar a uma possibilidade de amor.
         Tempo estranho este que vivemos... Mas essa prosinha já falou de muitos temas sem nenhuma profundidade. Então coloco a viola no saco e vou divagar em outro lugar. Mas peço aos meus solitários leitores que frutifiquem a semente desses pensamentos tão diversos. E desejo um bom amanhã a nós viventes!