Tenho visto e
vivido cada coisa nesse mundo... Entre as minhas tantas divagações está uma observação
peculiar: a educação que os pais dos últimos tempos têm dado aos seus filhos.
Depois de ser mãe um mundo novo descortinou-se a minha frente. Tenho percebido
falhas no mundo que antes eram absolutamente normais para mim. Tenho ficado
sensível a tentativa de melhorar tudo a minha volta na tentativa de apresentar
um mundo melhor para o meu filho.
Pois bem, o que me incomoda nesses últimos tempos,
é a relutância em dar responsabilidades aos filhos que alguns pais têm e pior,
acham que isto é uma boa educação, estão protegendo para dar caráter. Calma,
confuso leitor, vou me explicar! Exemplificando: quando crianças, os pais pagam
babás para ter paciência com seus filhos ao invés de eles mesmos cuidarem, ensinarem
limites, gastarem seus dias cultivando o caráter de um pequeno ser. Se o filho
criança quer um brinquedo caro, os pais modernos simplesmente compram, antes de
ensinarem o valor do dinheiro, antes de ensinar seus filhos a brincar com
outras crianças, antes de estimularem a imaginação, coordenação motora, o corpo
do filho.
Os pais modernos quando tem filhos adolescentes proíbem
namoros, ou a todo custo dizem pros seus filhos usarem contraceptivos ininterruptamente,
pregam que bebês estragam vidas e outras várias barbaridades. Fazem isto antes
mesmo de ensinar que DST’s muitas vezes não tem cura, antes de ensinarem que
relacionamentos exigem parceria, lealdade, confiança, respeito; antes de
ensinarem que filhos precisam do amor dos pais, zelo, cuidado, entre tantas
outras responsabilidades que só os pais podem prover.
Pais modernos, quando tem filhos jovens adultos,
pregam que os mesmos tem de aproveitar a vida, estar em festas, não se apegar a
ninguém, ter seu foco unicamente em ganhar muito dinheiro. Os mesmos pais que
evitam que seus filhos arquem com as responsabilidades de seus atos ou
conquistem seus objetivos por mérito próprio. Os mesmos pais que alimentam
manias infantis nos seus filhos já adultos. Então já crescido e formado, este
filho tão “bem criado” pelos pais modernos não tem noção prática da vida. Não
sabem o valor do esforço, da dignidade. Acham que tudo é comprável, tudo é
alcançável, tudo é permitido. Acham que sentimento é algo ridículo, que
amizades são voláteis e que, como moramos no “país do jeitinho” para tudo
haverá uma forma de se safar da responsabilidade. Afinal, seus pais modernos
ensinaram que responsabilidade é algo ruim, que trabalho deve ser burlado, que
amigos podem ser comprados assim como os brinquedos caros da infância.
Desculpe Lucas, serei sempre uma mãe bem antiga. E
eu espero que um dia você entenda os valores que quero te repassar. Aprendi com
a diversidade de realidades que convivi valores que nem sempre encontro nos
dias de hoje. Aprendi que não importa as circunstâncias que um filho venha ao
mundo, ele sempre deverá ser amado por sua mãe. Aprendi que antes do nosso bem estar
devemos pensar no bem estar de quem amamos; que generosidade e altruísmo nos
fazem mais felizes que a roupa cara da moda. Aprendi que amigos de verdade é um
presente valioso da vida. Sei que responsabilidade, trabalho e esforço nos
tornam dignos todos os dias enquanto vivermos, e que trabalho é algo
maravilhoso mesmo que mal remunerado. Aprendi que nem tudo tem um jeito, nem
todo problema tem solução e que para ser forte é preciso aprender a conviver
com isto, e entender que nem tudo depende de nós por mais que tenhamos garra. Entender
que no mundo também existem pessoas más e que não podemos ser cordeiros
benevolentes 24 horas por dia. Assim como não podemos ter malícia 24 horas por
dia.
Aprendi ainda que um filho é a melhor
responsabilidade que podemos ter. Que o sorriso da nossa cria é mais valioso
que um carro importado, que o choro acalentado e um abraço depois do nosso bebê
cair nos faz sentir úteis e fortes para sempre e que é melhor ficar em casa
brincando num sábado a noite do que a balada agitada da moda.
Talvez eu tenha enxergado um mundo atípico, ou
talvez eu tenha nascido na época errada, não sei ao certo. O fato é que me sinto
deslocada por gostar de responsabilidades, que me sinto estranha por não largar
meu filho com o primeiro adulto que aparece só para estar na balada. Sinto-me
diferente, mudada e não sei até que ponto isto me fará bem. O que eu sei é que
mesmo sentindo falta de algumas festas de vez em quando, amo estar com o Lucas
e com as minhas responsabilidades e isto me faz feliz. Depois desta confissão
só me resta torcer para que os pais fiquem mais caretas... Quem sabe o mundo
volte a ter pessoas com mais essência e menos aparência.