quarta-feira, 16 de maio de 2012

Devaneios ou Bobagens.



É isto que você faz com a sua única chance neste jogo? Certa vez me vi pensando isto sobre a vida. E quando penso na vida, penso também em religião, amor, sexo, amizades, tantas outras coisas se conectam a pergunta que me fiz. E já que estou divagando em pensamentos, então continuo o meu passeio mental, levando você também, meu querido e solitário leitor.
                Acredito em coisas tolas. Acredito que se eu tenho uma chance de melhorar tudo ao redor não vou dispensá-la. Se todos nós teremos o mesmo fim não vou tratar ninguém diferente por ele ter nascido em outra classe social, de outra cor, muito menos por ele ter mais ou menos idade que eu, o respeito é o mesmo para todos. Se eu tenho uma só chance neste jogo de vida que sempre irá acabar na morte, irei me permitir ser feliz, fazer aquilo que achar justo e a única lei que prevalece é não prejudicar o outro. Permito-me ser livre em todo segundo que eu for viva. É exatamente neste ponto que entra a minha aversão a ter uma religião... Qual a relação? Eu explico. Não me permito aceitar que o meu deus é melhor que o seu deus, que deus é diferente para cada grupo, que eu segregaria alguém ou diria a este alguém que ele está errado em sua fé. Não me permito que alguém igual a mim, me diga o que deus acha melhor para minha vida, afinal se somos todos iguais, se todos nós temos pecados, porque deus não sussurraria ao meu ouvido? Não me permito comprar coisas ‘sagradas’ e rememorar a época das indulgências... Não me permito ser presa em minha fé.
                Não consigo aceitar a ideia de uma religião ditar a quem devo amar ou como devo amar ou o que devo fazer dentro de todas as possibilidades deste amor, seja amor Eros ou Ágape. Não consigo aceitar as amarras sufocantes e repressoras desta ideia sequer. Não aceito que uma religião me diga a quem devo ser simpático ou confiar. Que me ditem com quem devo falar em tom amigável, afinal, se sou amiga ou simpática a alguém é porque aceito seus defeitos e virtudes e o resto não é da minha conta, a vida de cada um só cabe a si mesmo. Da mesma forma que o deus de cada um mora em si. Estes devaneios que precisam ser expostos aliviam uma alma atordoada que busca a paz interior. Poderia eu buscar a Deus para acalmar meus ânimos, mas prefiro buscá-lo na racionalidade dos meus pensamentos.
                É pensando em tantas coisas estranhas e ao mesmo tempo lógicas para mim, que me respondo e consolo, sim é isto que farei com a minha chance neste jogo, afinal é minha única chance. Talvez acreditar em tantas coisas atípicas seja apenas o desespero de uma alma que já não acredita no mundo, ou talvez seja só a vontade de enxergar de fato um mundo melhor algum dia. Enquanto isto, eu sigo calmamente com as minhas bobagens textuais.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Sabedoria dos Bebês e dos Velhos.



Por vezes, levamos muito tempo para perceber que a vida é um ciclo e o que faz a diferença é tudo que desenvolvemos entre as duas pontas da linha da vida. Nascemos frágeis, carentes de cuidado e proteção, admirados do mundo que nos cerca, sensíveis a tudo ao redor. E quando estamos velhos, somos da mesma forma. Necessitamos de cuidados e compreensão, somos sensíveis ao mundo que nos rodeia e temos uma admiração infinita por tudo que foi vivido, e esta admiração sempre vem acompanhada da saudade dos dias que se passaram.
                É lamentável que as pessoas nem sempre enxerguem isto. Acham que aos bebês é necessário ensinar e educar, e aos velhos repreender, pois os últimos já viveram demais e deveriam saber se cuidar sozinhos. Meu caro, minha cara, não é assim que as coisas funcionam! A nossa consciência, o mundo obscuro da nossa mente tem muitos labirintos, alguma vez podemos nos perder neles. Agradeça muito a força criadora do universo se você viver muito e nunca entrar nessa situação especial. Ou se você relutar em aceitar isto imagine comigo um bebê que de repente olha ao seu redor e não reconhece nada, busca pela sua mãe e ela não está perto (entendamos como mãe a base e o alicerce de segurança criado por este bebê), com certeza, este bebê irá chorar. Quando estamos velhos agimos da mesma forma. Gostamos de nos sentir seguros, em nosso ‘ninho’.
                As semelhanças são muitas, infinitas, mas meu caro leitor, o que mais dói são as diferenças de como muitos tratam as duas pontas da vida. Ou pior, o descaso que se faz com as duas pontas da vida. Não é raro se ver cenas onde as pessoas não tem paciência, tampouco compreensão com as fases mais curiosas de uma existência. Não é raro ver cenas de mães que não zelam por seus filhos, mães sem sensibilidade de enxergam que bebês têm vontades, personalidade, carências, necessidades e atitudes próprias. Assim como também não é raro ver cenas de pessoas maltratando ou abandonando velhos por acharem que eles já não são necessários para a vida. Pessoas cegas que não percebem a sabedoria e a beleza dos extremos.
                Um bebê olha todas as pessoas sem distinções de cor, classe social, idade, olha com a pureza de quem só quer absorver o melhor de cada um, sem classificações que colocamos ao longo da vida, criando uma redoma suja. Um velho olha a todos com indiferença de tratamento, já não importa classificar, excluir, segregar, pois eles enxergam que todos nós teremos o mesmo fim. Velhos estão prestes a encarar um mundo novo que nenhum de nós sabe como é e bebês acabaram de embarcar neste mundo novo que eles não faziam ideia de como seria.
                Muitos passam a vida inteira achando que sempre haverá um amanhã jovem e belo, maltratam quem está a sua volta, segregam, se sentem inatingíveis, suas prioridades são facilmente compráveis, vivem dias e dias buscando propósitos vazios, no alvoroço de conquistar objetivos tão fúteis, tão vazios que chega a ser muito triste entender isto. É óbvio caro leitor, que os bens materiais são fundamentais para a sobrevivência neste mundo, mas isso não deveria se tornar o seu único propósito na vida. Todo ciclo tem começo, meio e fim, e como já foi dito a vida é um ciclo, ela terá fim.
                 Se pararmos pra pensar, o que é a vida afinal? Uma corrida cega rumo ao nada? É isto que você faz com a sua única chance neste jogo? O que se leva da vida é a liberdade de ter vivido o que se quis, isto no final é que compensará tudo. Ter amado a quem se quis, ter cuidado de quem nos fez bem, ter ensinado a quem nos odeia que não vale a pena perder tempo com sentimentos vazios, ter melhorado o mundo ao redor para que o nosso legado seja benéfico ao outro. O que se leva da vida é a amizade, o amor, os bons momentos, as atitudes construtoras, o que se pode fazer da vida é ser um pouco de energia construtora para nós mesmos e para o outro.  
                No mais, tudo se torna banal. A pressa de conquistar o material nos cega para perceber que viveremos um mundo espiritual quando partirmos. O que restará será somente a essência das nossas atitudes. Os bebês e os velhos tem esse desprendimento. Os bebês precisam de colo, os velhos de atenção. Talvez nossa sociedade viva tão amarga por não aprender isto com seus bebês e seus velhos. Talvez seja este o segredo da vida, entender o outro, se colocar na situação do outro, para que possamos nos sentir felizes com nós mesmos. Ou talvez isto seja só um devaneio de algum labirinto da minha mente. Na dúvida, tento aproveitar o caminho, antes que ele chegue ao fim e torço muito para que meu filho também possa enxergar isto um dia.