Por vezes,
levamos muito tempo para perceber que a vida é um ciclo e o que faz a diferença
é tudo que desenvolvemos entre as duas pontas da linha da vida. Nascemos
frágeis, carentes de cuidado e proteção, admirados do mundo que nos cerca,
sensíveis a tudo ao redor. E quando estamos velhos, somos da mesma forma.
Necessitamos de cuidados e compreensão, somos sensíveis ao mundo que nos rodeia
e temos uma admiração infinita por tudo que foi vivido, e esta admiração sempre
vem acompanhada da saudade dos dias que se passaram.
É lamentável que as pessoas nem sempre enxerguem
isto. Acham que aos bebês é necessário ensinar e educar, e aos velhos
repreender, pois os últimos já viveram demais e deveriam saber se cuidar
sozinhos. Meu caro, minha cara, não é assim que as coisas funcionam! A nossa consciência,
o mundo obscuro da nossa mente tem muitos labirintos, alguma vez podemos nos
perder neles. Agradeça muito a força criadora do universo se você viver muito e
nunca entrar nessa situação especial. Ou se você relutar em aceitar isto
imagine comigo um bebê que de repente olha ao seu redor e não reconhece nada,
busca pela sua mãe e ela não está perto (entendamos como mãe a base e o
alicerce de segurança criado por este bebê), com certeza, este bebê irá chorar.
Quando estamos velhos agimos da mesma forma. Gostamos de nos sentir seguros, em
nosso ‘ninho’.
As semelhanças são muitas, infinitas, mas meu caro
leitor, o que mais dói são as diferenças de como muitos tratam as duas pontas
da vida. Ou pior, o descaso que se faz com as duas pontas da vida. Não é raro
se ver cenas onde as pessoas não tem paciência, tampouco compreensão com as
fases mais curiosas de uma existência. Não é raro ver cenas de mães que não
zelam por seus filhos, mães sem sensibilidade de enxergam que bebês têm
vontades, personalidade, carências, necessidades e atitudes próprias. Assim
como também não é raro ver cenas de pessoas maltratando ou abandonando velhos
por acharem que eles já não são necessários para a vida. Pessoas cegas que não
percebem a sabedoria e a beleza dos extremos.
Um bebê olha todas as pessoas sem distinções de cor,
classe social, idade, olha com a pureza de quem só quer absorver o melhor de
cada um, sem classificações que colocamos ao longo da vida, criando uma redoma
suja. Um velho olha a todos com indiferença de tratamento, já não importa
classificar, excluir, segregar, pois eles enxergam que todos nós teremos o
mesmo fim. Velhos estão prestes a encarar um mundo novo que nenhum de nós sabe
como é e bebês acabaram de embarcar neste mundo novo que eles não faziam ideia
de como seria.
Muitos passam a vida inteira achando que sempre
haverá um amanhã jovem e belo, maltratam quem está a sua volta, segregam, se
sentem inatingíveis, suas prioridades são facilmente compráveis, vivem dias e
dias buscando propósitos vazios, no alvoroço de conquistar objetivos tão
fúteis, tão vazios que chega a ser muito triste entender isto. É óbvio caro
leitor, que os bens materiais são fundamentais para a sobrevivência neste
mundo, mas isso não deveria se tornar o seu único propósito na vida. Todo ciclo
tem começo, meio e fim, e como já foi dito a vida é um ciclo, ela terá fim.
Se pararmos pra pensar, o que é a vida afinal?
Uma corrida cega rumo ao nada? É isto que você faz com a sua única chance neste
jogo? O que se leva da vida é a liberdade de ter vivido o que se quis, isto no
final é que compensará tudo. Ter amado a quem se quis, ter cuidado de quem nos
fez bem, ter ensinado a quem nos odeia que não vale a pena perder tempo com
sentimentos vazios, ter melhorado o mundo ao redor para que o nosso legado seja
benéfico ao outro. O que se leva da vida é a amizade, o amor, os bons momentos,
as atitudes construtoras, o que se pode fazer da vida é ser um pouco de energia
construtora para nós mesmos e para o outro.
No mais, tudo se torna banal. A pressa de conquistar
o material nos cega para perceber que viveremos um mundo espiritual quando
partirmos. O que restará será somente a essência das nossas atitudes. Os bebês
e os velhos tem esse desprendimento. Os bebês precisam de colo, os velhos de
atenção. Talvez nossa sociedade viva tão amarga por não aprender isto com seus
bebês e seus velhos. Talvez seja este o segredo da vida, entender o outro, se
colocar na situação do outro, para que possamos nos sentir felizes com nós
mesmos. Ou talvez isto seja só um devaneio de algum labirinto da minha mente.
Na dúvida, tento aproveitar o caminho, antes que ele chegue ao fim e torço
muito para que meu filho também possa enxergar isto um dia.