Zeram os cronômetros...
E reiniciam a contagem de um tempo infinito que não cabe em mim. Lembranças
vivas de um passado cotidiano que ainda não aprendi a conviver. Desculpe
confuso leitor, se inicio assim nossa conversa... Mas existem fatos e
sentimentos que transcendem qualquer narração. Hoje repenso e divago sobre os
amores perdidos; Amores frustrados que insistem em não morrer, amor que não se
limita a convenção de um relacionamento, um amor humano apenas. Não falo do
amor puro que vivemos livremente, falo do amor marginalizado que nem veio a
nascer.
Por vezes
guardamos expectativas enormes, doamos sonhos a quem não quer ser sonhado,
idealizamos noites e dias com alguém, contamos cada segundo somente para ter a
oportunidade de rever aquele ser, sentir seu cheiro, dar um abraço apertado,
conversar... E quando a vida conspira para que isto aconteça, simplesmente
travamos. Perdemos controle sobre nossos sentidos, sobre nossa voz, sobre
nossas vontades e nada fazemos ou dizemos, deixamos a tão sonhada oportunidade
escapar por entre os dedos, deixamos tudo em vão. Ficamos inertes diante do
amor vencido pelas adversidades.
Quem dera se tivéssemos
controle dos dias... Existem tantas histórias lindas que mereciam uma chance de
ao menos ser conversada. Tanto se vive sem viver, tanto se sonha em vão, tanto
se perde do que nos faz feliz. É uma constante lamentação olhar para trás e
perceber o rumo que uma parte de nós tomou. Talvez tudo tenha acontecido da
melhor forma que foi possível, mas sempre restará a gana de querer um pouco
mais. Não sei se o meu solitário leitor já viveu um amor vão, mas reafirmo meu
amigo, estes sentimentos nos marcam mais do que deveriam, destroem um pouco da
nossa capacidade de sonhar. É muito complexo especular o passado e o futuro,
olhar para o que ficou no ontem nos dá uma nostalgia enorme e olhar para tudo
que está pela frente nos mata de ansiedade. Tento me prender ao agora, mas uma
alma cheia de tormenta e divagações jamais conseguirá aquietar-se.
O amor se
manifesta de tantas formas que nos confunde. Olhamos para um filho com um olhar
de amor protetor, olhamos para a mãe com um olhar de amor gratidão, olhamos
para os amigos com um amor confiança, olhamos para um companheiro com um amor
ternura, olhamos para tudo o que poderia ter sido e não foi com um olhar de
amor marginal. Uso a palavra-sentimento Amor com a malícia de confundir e
incitar aos poucos que leem estas frases confusas. Confundir-se em seus
sentimentos e incitá-los a ter uma capacidade de amar sem taxatividades. Amamos
o que conhecemos e o que desconhecemos. Amamos ao algoz e ao salvador. Amamos
sem motivos ou com todos os motivos. Repetindo o poeta, o amor cabe em si. Mas
precisamos libertar nosso coração. Disse certa vez que carrego ódios que nem
mil vidas bastariam para aliviá-los, mas carrego também amores que nem todo o
universo seria suficiente para demonstrá-lo. E dedico estas palavras confusas a
aliviar um pouco da raiva que carrego... Raiva de acreditar quando não poderia.
Sonhar quando não deveria. Calar quando tudo que eu mais queria era falar.
Imagino que cada
dia nos reserva uma surpresa rumo a algo melhor e estranho a nossa percepção
atual. Então com a fé em dias melhores, fico com a tácita torcida de rever,
conversar, sonhar e aliviar o coração. Fico com a silenciosa torcida de
perceber que nenhum amor será vão enquanto antes de tudo, possamos amar a nós mesmos.
E perceber que tudo aquilo que nos destrói a alma também nos faz renascer mais
fortes e gananciosos de felicidade. Fica a ousada torcida de acertar contas com
a vida!