sábado, 15 de junho de 2013

Página de Diário.


...lembrando-me de um dia qualquer.

                Minha memória é meu maior algoz. Por tantas vezes já fui criticada por me lembrar de tudo. Por me lembrar das dores, das maiores alegrias, dos momentos de ternura, pelos motivos de gratidão ou de rejeição. Acredito que lembrar faz parte da construção da nossa vida, é uma forma de recriar o momento que foi vivido. Nossas memórias são a bagagem que carregamos na vida, é o que trazemos para nos fazer sobreviver diante dos caminhos que escolhemos.
                Mas como posso esquecer tudo aquilo que vivi? Por qual motivo eu iria apagar tantas experiências, emoções, sensações? Se algo foi ruim carrego como aprendizado, se foi bom será meu oásis imaginário. Preciso de um passado para ser quem eu sou no presente, preciso de um futuro para acreditar, para ter fé em dias de felicidade. E o que resta ao presente é viver tudo que se quer viver, viver o que se escolhe, viver o que dá pra viver. Talvez por este motivo eu não entenda bem as pessoas depressivas, acho que a depressão é a falta de lucidez, a falta da consciência da grande oportunidade que nos foi dada ao nascer. A vida é maravilhosa por pior que sejam as circunstâncias nas quais se vive. Temos a chance valiosa de lutar para mudar o que nos faz mal, a chance de conquistar amores, grandes felicidades, tentar realizar nossos sonhos. Não podemos esperar dos outros tudo aquilo que cabe a nós sermos ou fazermos. Não podemos esperar do outro os motivos para a nossa felicidade. O outro já tem sua vida para viver e não pode ser refém das nossas expectativas. Não podemos cobrar que o outro se torne alguém que idealizamos sozinhos. O problema é que muitas vezes as pessoas se acomodam e desistem das suas lutas.    
                Constroem ao seu redor redomas, limites, frustrações alheias, deixam-se manipular pelas religiões, pelos padrões sociais, pelas regras de tudo que se imagine e esquecem-se do principal, a sua felicidade. Ser feliz não é ter todo dinheiro do mundo, ter as melhores roupas ou os melhores carros. Ser feliz é estar livre, é vestir o que se tem, ir aonde se pode ir, estar com quem se quer estar, fazer o que dá vontade e sentir aquela paz no coração. Ser feliz é estar em paz. Não interessam os problemas, ou as contas, ou os prazos, todo mundo tem obrigações. O que realmente interessa é a consciência que só temos essa chance de fazermos as coisas darem certo, e precisamos aproveitá-la antes que caia a tarde sobre nós. E neste ponto volto ao princípio do texto, a memória. É tão valioso lembrar, lembrarmo-nos dos momentos que se viveu, afinal, em momentos de dor a memória lembra que é possível ser feliz, mesmo que por poucos instantes, ou então lembra-nos que é necessário fugir dos mesmos erros, ou que se deve lutar para mudar a realidade.
                Perdoe-me se não esqueço meu passado, mas se assim o fizer deixarei de ser eu. Cultivo sentimentos às memórias que tenho, cultivo a ternura aos bons momentos, a raiva aos que me machucaram e a gratidão aos que me ensinaram. Não tente me mudar, talvez essa seja a minha maior virtude. Não tente me prender nas suas frustrações ou recalques; não tente me domesticar, me pacificar, sou sujeito ativo apenas da minha própria vida, não tento modificar ninguém por capricho. E agora, antes que estas palavras virem livro de autoajuda coloco a caneta em um canto e vou viver o que eu quero.