Não
busco a perfeição, mas busco todos os dias entender meus erros. É essencial pra
todo ser humano o aprendizado, os erros, a dor para crescimento pessoal e
espiritual. A perfeição desde o começo dos tempos, sempre foi uma grande utopia
humana, o ideal inatingível e distante das nossas mãos. Buscá-la não é um erro,
acreditar que há de se atingir um dia é ilusão.
A perfeição da
beleza, das atitudes, do trabalho, das relações humanas, dos sentimentos, do
que somos são o querer e nunca ter. Quantas vezes assistimos pessoas próximas a
nós [e até nós mesmos] buscando insistentemente refazer algo para que fique
“perfeito”, ou por quantas vezes nos punimos por não ter dito a coisa certa,
por ter omitido algum gesto, por ter deixado de fazer algo que não é
considerado certo, mas que tanto queríamos? Quantas vezes nós, humanos, nos
surpreendemos recriminando o próximo por não serem como gostaríamos que fossem
ou por não agirem como queríamos? Quantas vezes condenamos o outro por ser diferente
e imperfeito, distante do que idealizamos?
Somos falhos,
temos defeitos. Para alguns admitir isto é o fim dos tempos, é a pior acusação
já feita. O problema de todos nós, caros mortais, é deixar a nossa querida vaidade
de lado e assumir o lado mais óbvio, o humano. Qual o limite que atingiremos
por não confessar nossas imperfeições? Por que pagar um preço tão alto? Nunca
achei justo deixar de fazer nada por ser imperfeito, apesar de sempre ter
zelado por quem amo e correr o risco cruel de machucá-los. Não acho racional
abrir mão de coisas por vezes banais, só pelo simples motivo da “sociedade” não
aceitar. Se vivemos neste plano terreno uma só vez, se temos vontades, desejos,
manias, carências, fraquezas e devaneios, por que não viver cada detalhe de nós
mesmos?
Seria este um ato
de rebeldia ou libertação? Escolho a segunda hipótese. Libertar-se de si mesmo.
De tudo que construíram por nós quando não tínhamos discernimento nem
capacidade de escolha. Libertar-se do banal, comum e simplório. Mas este também
é um preço alto, a diferença, caro amigo, está no prazer e satisfação que
sentimos ao realizar nossos desejos sacanas, vontades inconfessáveis, taras
proibidas, sonhos reprimidos. A diferença consiste em descobrir o prazer da
autorrealização, do querer e poder.
Nós humanos,
sofremos muito por encontrar um mundo já pronto, onde nossa opinião pouco
conta. Sofremos por não encontrarmos espaço para fazer o que sonhamos, não
encontrarmos o que buscamos. Nossa alma limitada ao corpo recusa em aceitar
dogmas seculares e diariamente entramos em atrito com o racional [afinal a vida
é absurda e irracional!], com o sensato. Nossa alma é subjetiva. Duelamos com
nós mesmos ao imaginar tantas possibilidades e tantos limites impostos.
Enlouquecemos ao perceber tantas castrações. Estamos diante da realidade que
assusta a própria realidade.
Afinal, qual o
limite de nós mesmos? E o principal, como descobrir nossos limites se não
lançarmo-nos a prova? Eis a dúvida existencial comum a todos. Faço-me então
livre. Dou alforria aos dogmas, as crenças castradoras, aos limites ditatoriais
da sociedade, a repressão. Considero-me livre para falar, pensar, imaginar,
descobrir coisas maravilhosas que poucos sabem, descobrir até o que não existe
fora de mim. Quero estar em prova do bem e do mal. Pois sei que todos nós
carregamos deus e diabo na essência. Lanço os dados para o improvável,
impossível, inimaginável. Aposto todas as fichas e sei que não vou me
arrepender de ser o que quero, de ter sonhos ousados, gigantes, absurdos. Declaro-me
livre para errar. E esta confissão me enche de alegria e me traz grandes
esperanças.
E se um dia
perder-me em mim, nas minhas vontades, vou ter certeza ainda mais de tudo que
quis, vou poder diferenciar meus desejos e meus erros, o que ganhei ou perdi.
Vou ter crescido. Quem já sentiu ao menos uma das sensações que falei, bem sabe
o quanto se pode ser feliz. Conhecer o proibido. Lembrando de textos bíblicos,
recordei-me da Eva no paraíso. Sinceramente acho que se o paraíso e a perfeição
fossem tão “perfeitos” e satisfatórios [sendo um pouco redundante] teria ela
mordido a maçã proibida? Depois de sua expulsão ditatorial do paraíso ela criou
o resto da humanidade [ou nós a criamos?] e nós criamos os pilares para a
pregação da palavra de Deus. Então, acho que esta pode ser uma das provas do
quanto é bom fazer o que queremos. Com nossas atitudes transgressoras seremos
capazes de criar maravilhas, ou quem sabe, recriar toda a humanidade. O que
aprendemos com Eva é a rejeitar a perfeição, ela nos cansaria. Precisamos da
multiplicidade de ações, dos erros para ser mais feliz, para nos sentir mais
completos.
Sisífo nos ensina
algo parecido em seu mito. Todo trabalho quando chega ao fim, precisa de um
recomeço, nunca estará perfeito ou completo, sempre relançaremos a pedra, não
somente por uma condenação dos deuses, além disso, por uma necessidade que mora
em nós. O que enxergamos no alto do monte percorrido por nós é a sensação de
que a vertigem nada é se comparado ao caminho trilhado. A perfeição nunca
existirá sem os erros, sem as dificuldades, sem os abismos vividos todo dia.
O que deixo ao
leitor é o relato de quem muito erra todos os dias, mas que não tem
arrependimentos. Enxergo tudo que vivi como necessário. Realizo-me por viver
todas as possibilidades, por dizer mais sim do que não. Tenho consciência de
que não sou modelo para ninguém, minhas atitudes nem sempre são as mais
sensatas, reconheço minha pretensão e ousadia de tanto falar coisas absurdas a
primeira vista. Porém caro leitor, se um dia em sua vida, você se sentir
sufocado em si mesmo ou limitado, tente me dar algum crédito, perceba o prazer
que há em permitir-se, em dar alforria aos sonhos. Se eu estiver errada em tudo
que disse, peço uma só coisa, me perdoe.