A Lucas, com amor.
Quando não temos filhos tudo parece muito fácil e distante. Achamos
que as preocupações e paranóias das nossas mães é exagero e que jamais
agiríamos igual. Pois bem, até que um dia você se depara com uma realidade
diferente e descobre que você também vai ser mãe. Caos na terra. A primeira
sensação que se tem é de impotência, principalmente quando você vai ser mãe
cedo ou sem planejar.
Impotência por
imaginar como você que sempre teve preocupações banais vai ser responsável por
uma vida frágil e cheia de expectativas. Ao tempo que essa impotência invade
seus dias, você também se sente diferente, você se sente viva. Invadida por uma
partícula de Deus, uma partícula da perfeição divina. É tudo muito estranho,
pois você que pouco acredita e tem fé, agora [quase que em desespero] sente uma necessidade de Deus na sua vida,
para acreditar que não está sozinha, para acreditar que tudo vai dar certo e
que o ser humano é muito pouco sem um pedaço de luz da criação divina.
Então você
readapta todos os seus hábitos rotineiros, você estranhamente muda e nem nota.
Os primeiros dias que se tem a noticia você pensa e pensa e pensa em como será
sua vida, o que vai mudar e se sente perdida. Então começa o pré-natal... a
emoção da primeira ultrassom, o primeiro mês de vida do seu neném, alguém que
vai carregar suas características, que vai aprender valores, brincadeiras e
tudo mais que você repassar. Você olha pra tela e fica tentando decifrar o que
aquilo tudo significa, então você se dá conta, é o meu filho! É impossível esquecer
aquele dia.
O mundo
definitivamente mudou para você e não importa o que aconteça ou o que vão
dizer, você vai lutar com todas as suas forças por uma vida que agora é tão
dependente de você. A sua alimentação muda, seu corpo muda, seus planos mudam,
você muda completamente porque tudo agora é plural. Você tem medo de cada
tropeço, tenta corrigir todos os seus erros e tenta preparar o mundo para o SEU
filho. Tenta conseguir o melhor meio para ele viver, as pessoas que estarão a
sua volta, o que ele vai aprender. É como se você tentasse recolorir e reformar
o mundo. Na tentativa de entregar ao fim de 9 meses um mundo perfeito onde ele
possa ser muito, muito, muito feliz.
Você pela
primeira vez sente o que é um amor verdadeiro, sem limitações, você entende
agora todo o amor que recebeu da sua mãe em cada pequeno detalhe. Os meses vão
passando e você se divide entre a ansiedade de conhecer seu filho e de querer
ter mais tempo para protegê-lo em si e organizar esse mundo em caos. A emoção
da primeira vez que você sente seu filhote se mexer dentro de você, nossa! Você
nem é capaz de acreditar... Então se dependesse da sua vontade faria ultrassons
todos os dias para saber como está seu bebê, para vê-lo se mexer, para cuidar.
Se você adoece o dilema para tomar um remédio é horrível, você se pergunta e
pergunta milhões de vezes ao médico se ele tem MESMO certeza que não vai fazer
mal nenhum ao neném, se vai ter alguma reação. Se alguém passa fumando perto,
você tem vontade de matar a criatura imbecil que não notou que isso pode fazer
mal ao seu filho. Bebida nem pensar. Até na hora de comer as besteiras que
desejamos compulsivamente você se sente culpada. Larga seu sanduíche favorito.
Seu refrigerante favorito parece veneno e bebê-lo te faz quase chorar. Você luta
contra seus instintos e vícios só para cuidar do seu filho e quando come essas
besteiras fica se sentindo extremamente culpada depois. Você simplesmente acha
que enlouqueceu, mas na verdade você chega a uma só conclusão, tudo isso é a
prova do quanto você ama infinitamente seu filho.
Quando a noticia
de que você vai ser mãe começa a ser contada aos mais próximos você fica
ansiosa para saber a reação deles... você sempre quer que tenham a melhor
reação, afinal é um pedaço de você que está sendo gerado. E quando alguém não
tem a reação que você esperava você fica louca de raiva a ganha um novo
inimigo. Oras, é o seu neném.
Um dia, numa das
várias consultas ao seu médico, você descobre o sexo do bebê, lógico que o amor
é o mesmo indistintamente, mas você vai construindo e conhecendo a cada dia seu filhote e isso te
coloca em um estado superiormente interessante. Então agora que você já sabe
mais uma característica dele fica sonhando e pensando em tudo. As roupinhas agora
serão de um jeito, quem serão seus amigos, quem serão seus amores, você viaja
tanto que imagina qual profissão ele terá, quantos filhos ele terá, você pensa
tanto que a sua vida agora é ele. Mesmo que você diga que ainda tem vida
própria. A sua vida própria agora é dividida com ele, é o seu amigo, o seu
querido e ansiosamente esperado herdeiro. Herdeiro de todas as coisas boas que
você poderá dá-lo.
Você fica imaginando e imaginando tantas
coisas... o nome do SEU filho é quase que um enigma existencial, qual nome irá
transmitir em poucas letras todos os meus desejos para ele, qual o significado
será capaz de explicar o que mais quero que ele tenha, o que espero que ele
seja. Você se apega aos sites de significados de nomes, tem que ser o nome mais
bonito. Algo único, forte, expressivo e sempre associado a tudo de bom que você
sente. É o código que ele carregará a vida inteira, é a identidade do seu filho
começando a ser construída.
Você pensa noites
e dias, você sofre e se angustia para passar essa mensagem da melhor forma. Até
que depois de muita pesquisa, associações mirabolantes, você dá o veredito...
Então agora você já sabe como chamá-lo. E deseja que só coisas boas aconteçam
na vida do seu neném tão amado. Que tudo tenha um pedaço da luz divina que invadiu
sua vida. Que tudo possa fazê-lo feliz e que cada espinho que apareça na vida
dele seja retirado sem dor. Deseja que ele nunca sofra e que se o sofrimento
for inevitável, que essa dor seja capaz de fazê-lo crescer.
E cada dia você
constrói algo mais para deixar a ele... afinal, tudo que você construir será o
mundo dele.