sábado, 24 de março de 2012

Um Pouco de Caos.


Pra ser normal...


Por que as pessoas precisam de religião? Por que a deficiência em relação a sua autonomia? Por que o medo do nada no além-túmulo? Para que Deus? Faz tempo que o ser humano busca responder tantas questões assustadoras... E como não consegue admitir o vazio de sua existência justifica-se religioso e temente a Deus.
                É mais cômodo terceirizar seus vazios. Admitir que Deus não existe, faria a humanidade sem norte. A maior deficiência humana é enfrentar a si e seus medos, é preciso coragem e equilíbrio... Mas quem disse que a maioria das pessoas possui tais atributos? A mediocridade humana é surpreendente. Poucas pessoas conseguem conviver em paz social admitindo não existir um Deus supremo e todo poderoso, seguir suas vidas com propósitos mais interessantes.
                Tamanha indignação é fruto de uma conversa que ouvi certa vez. Um grupo discutia sobre casamentos. E falavam de seus “imensos” propósitos rotineiros. Do quanto precisavam aprender a cozinhar bem, ou que seus maridos tinham direito de ter maior liberdade que elas mulheres, ainda, que o orçamento mensal estava mínimo, do quanto “Deus” as abençoou por arranjar um casamento... Coisas domésticas. Fiquei me perguntando, será que a vida destas pessoas se resume a isso? Arranjar um empreguinho, ter filhos, casar, envelhecer, morrer. Quanto tempo estas pessoas aguentam esta rotina? Uma vida toda? Será que não há um propósito maior para longos e curtos anos de existência?
                Muito me censuram por não ser comum a outras meninas... Já ouvi censuras de toda espécie, tipo: Você é muito livre, não conhece limites... [Há um limite para ser humano?] Poxa, você é mulher, não pode pensar assim... [O meu pensamento é limitado pela condição feminina?] Nossa, você é louca, não crê em Deus... [sou obrigada a ter religião, a acreditar em algo irracional?] Poxa, você mora só, não tem medo? [Medo de mim? Não, eu até gosto de mim...] Você só quer ser diferente... [alguém no mundo é igual?] E a melhor de todas: Você precisa casar e ter filhos. [Preciso?]
                Sinceramente o pensamento simplório de tanta gente que me cerca é assustador. Provinciano, bairrista, infantil, imaturo, medíocre. O resumir da existência humana pobre e tosca. Por que minha vida precisa ser igual? O Cristo que tantos creem teve por acaso uma vida comum a sua época? Casou, teve filhos como mandava sua tradição? Se assim for Igreja, se for pra ser igual, por que divinizar o diferente? Louvemos os iguais então, os que pecam por seguir sua vida com pequenas ambições. É hora de rever conceitos.
                Muitos censuram, julgam, pecam, são avaros, corruptos, dissimulados... e quando encontram a verdade, se assustam e a negam. Pelo visto Cristo, sua vinda a Terra não adiantou muita coisa, melhor não voltar, as coisas estão feias aqui. A verdade ainda assusta, seja ela qual for. Não sou contra os ditos “pecados”, sou contra as pessoas não assumirem quem são. Qual o sentido de existir sem se mostrar... egoísmo consigo, ou seja, não irei dividir eu mesmo? Tudo seria tão mais fácil se assumíssemos que somos uma raça falida que não sustenta seus propósitos e por isso os reduz.
                Aprendi algo que muito me anima todos os dias... Aprendi a sonhar. E, obviamente, se os sonhos são MEUS dou a eles o tamanho que bem entendo. Imensos. Infelizmente até por isto me censuram. Ouço coisas do tipo, você não pode sonhar o impossível? Por quê? Até meus sonhos devem seguir regras? Há algum tempo cansei de tamanha censura... E resolvi fingir ser normal. O problema agora é que na condição de normal as pessoas se aproximam, porém quando enxergam um pouco de quem eu sou, se afastam. Pior é que isso tem me causado um sofrimento difícil de sublimar.
                Abrir mão de quem eu gosto para não assustar. Eis o preço. Será que posso dar calote nesse preço?