Pra ser
normal...
Por que as pessoas precisam de religião? Por que a
deficiência em relação a sua autonomia? Por que o medo do nada no além-túmulo?
Para que Deus? Faz tempo que o ser humano busca responder tantas questões
assustadoras... E como não consegue admitir o vazio de sua existência
justifica-se religioso e temente a Deus.
É mais cômodo
terceirizar seus vazios. Admitir que Deus não existe, faria a humanidade sem
norte. A maior deficiência humana é enfrentar a si e seus medos, é preciso
coragem e equilíbrio... Mas quem disse que a maioria das pessoas possui tais
atributos? A mediocridade humana é surpreendente. Poucas pessoas conseguem
conviver em paz social admitindo não existir um Deus supremo e todo poderoso,
seguir suas vidas com propósitos mais interessantes.
Tamanha
indignação é fruto de uma conversa que ouvi certa vez. Um grupo discutia sobre
casamentos. E falavam de seus “imensos” propósitos rotineiros. Do quanto
precisavam aprender a cozinhar bem, ou que seus maridos tinham direito de ter
maior liberdade que elas mulheres, ainda, que o orçamento mensal estava mínimo,
do quanto “Deus” as abençoou por arranjar um casamento... Coisas domésticas.
Fiquei me perguntando, será que a vida destas pessoas se resume a isso?
Arranjar um empreguinho, ter filhos, casar, envelhecer, morrer. Quanto tempo
estas pessoas aguentam esta rotina? Uma vida toda? Será que não há um propósito
maior para longos e curtos anos de existência?
Muito me censuram
por não ser comum a outras meninas... Já ouvi censuras de toda espécie, tipo:
Você é muito livre, não conhece limites... [Há um limite para ser humano?]
Poxa, você é mulher, não pode pensar assim... [O meu pensamento é limitado pela
condição feminina?] Nossa, você é louca, não crê em Deus... [sou obrigada a ter
religião, a acreditar em algo irracional?] Poxa, você mora só, não tem medo?
[Medo de mim? Não, eu até gosto de mim...] Você só quer ser diferente...
[alguém no mundo é igual?] E a melhor de todas: Você precisa casar e ter
filhos. [Preciso?]
Sinceramente o
pensamento simplório de tanta gente que me cerca é assustador. Provinciano,
bairrista, infantil, imaturo, medíocre. O resumir da existência humana pobre e
tosca. Por que minha vida precisa ser igual? O Cristo que tantos creem teve por
acaso uma vida comum a sua época? Casou, teve filhos como mandava sua tradição?
Se assim for Igreja, se for pra ser igual, por que divinizar o diferente?
Louvemos os iguais então, os que pecam por seguir sua vida com pequenas ambições.
É hora de rever conceitos.
Muitos censuram,
julgam, pecam, são avaros, corruptos, dissimulados... e quando encontram a
verdade, se assustam e a negam. Pelo visto Cristo, sua vinda a Terra não
adiantou muita coisa, melhor não voltar, as coisas estão feias aqui. A verdade
ainda assusta, seja ela qual for. Não sou contra os ditos “pecados”, sou contra
as pessoas não assumirem quem são. Qual o sentido de existir sem se mostrar... egoísmo
consigo, ou seja, não irei dividir eu mesmo? Tudo seria tão mais fácil se
assumíssemos que somos uma raça falida que não sustenta seus propósitos e por
isso os reduz.
Aprendi algo que
muito me anima todos os dias... Aprendi a sonhar. E, obviamente, se os sonhos
são MEUS dou a eles o tamanho que bem entendo. Imensos. Infelizmente até por
isto me censuram. Ouço coisas do tipo, você não pode sonhar o impossível? Por
quê? Até meus sonhos devem seguir regras? Há algum tempo cansei de tamanha
censura... E resolvi fingir ser normal. O problema agora é que na condição de
normal as pessoas se aproximam, porém quando enxergam um pouco de quem eu sou,
se afastam. Pior é que isso tem me causado um sofrimento difícil de sublimar.
Abrir mão de quem
eu gosto para não assustar. Eis o preço. Será que posso dar calote nesse preço?