A vida passa
muito rápido. Como num piscar de olhos partimos para um mundo desconhecido que
está além da nossa compreensão. Gastamos tanto tempo para entender isto,
entender a nossa falta de controle sobre o amanhã que por vezes perdemos o foco
e deixamos de aproveitar o que é mais importante: o hoje. O amanhã é uma
ilusão. O amanhã é um consolo para não vivermos atormentados por não conseguir
fazer tudo que gostaríamos no hoje. Permitimo-nos acreditar no amanhã porque precisamos
ter a esperança que algum dia será como nós realmente desejamos.
Faça um teste caro leitor solitário, tente
programar hoje todo o seu dia seguinte com riqueza de detalhes, seja bem
descritivo. O outro dia te provará o que digo agora, nunca, nada na vida é como
queremos. Não temos o controle de tudo. Não sabemos de nada diante deste enorme
espetáculo da vida. A nossa única certeza é o agora. Pode parecer extremado
todas estas palavras desconexas, mas elas carregam a racionalidade de tristes
experiências. A maior frustração humana é não saber de si próprio. O outro
parece sempre saber mais de nós que nós mesmos. O outro sempre tem mais poder
sobre nós e assim tecemos uma rede de conexões que lembram o efeito borboleta.
O outro assiste o nosso nascimento quando não
sabemos nada do mundo, o outro nos leva flores ao túmulo quando já não vemos, o
outro sabe o que fará com o amor que damos a ele, o outro nos aprova ou reprova
na sociedade, o outro nos julga, nos calunia, nos oprime. O outro nos faz feliz
por instantes ou pelo resto da vida, o outro, sempre o outro. Se tentarmos nos
livrar do outro não sobreviveremos um dia sequer. Afinal ninguém é capaz de
sobreviver sozinho por muito tempo. Estamos entregues ao outro, a vida, ao
acaso. Dentro desta limitação humana reagimos criando a esperança de que nada
acaba aqui. Criamos a religião, criamos um deus a nossa semelhança, criamos o
amanhã, criamos o tempo, criamos tudo que alivia esta angústia do nada, de nos
sentirmos nada, de vivermos para nada.
Norteamos nossas vidas e fazemos dela a mais bela
criação do mundo. Afinal, não podemos desperdiçar a chance que temos de criar
certezas meio a tanta incerteza. O que levamos da vida é tudo que construímos enquanto
estamos vivos. O que levamos desta passagem rumo a incerteza de algo além, é o
amor que cultivamos, os momentos vividos ao lado de quem amamos, o respeito, a
solidariedade, os risos, as festas, as viagens. O que levamos da vida é a
felicidade que construímos na liberdade que temos. É preciso passar adiante
alegria. É preciso construir amor. Deixar ao outro o nosso sorriso sempre.
Mesmo nos momentos de dor. Sorrir mesmo quando nada é como queremos afinal
estamos aqui para lutar e construir a nossa felicidade.
Não sabemos do dia seguinte. O amanhã é o maior
mistério da vida de todos nós. O que nos resta é o hoje. O hoje determina a
nossas vidas com uma intensidade poderosa e escorregadia as nossas mãos. E se
somos assim tão impotentes precisamos da consciência do que estamos
construindo. Precisamos legar o respeito, a amizade, a ternura, o sorriso, a
felicidade. Pois será este o consolo para os que amamos no momento de nossa
partida, saber que fomos felizes no hoje que vivemos.