A saudade é o
reflexo dos momentos maravilhosos que vivemos. Por vezes ela é o nosso bálsamo,
outras ela é a nossa cruz. Sentimos saudade de um tempo, de uma pessoa, de uma
música, de um cheiro. Sentimos saudade de um abraço apertado, de um aperto de
mão firme, de um sorriso sincero. Sentimos saudade de conversas bobas, de
piadas, da voz. E essa saudade nos consola por revivermos aqueles momentos ao
lembrar, mas também nos angustia por não podermos vivê-los novamente.
O que nos resta
quando queremos olhar, sentir, conversar, beijar, abraçar alguém outra vez e já
não é possível? O que fazer com esta angústia infinita que trava o peito e
deixa nossa alma amarga? É uma sensação desesperadora e sufocante. Nada que se
diga ou faça adianta. Nada diminui a dor de não ter mais alguém perto de nós,
do tempo ter deixado quem amamos no ontem, de estarmos morando em mundos
diferentes. A religião nos ensina que sempre teremos quem amamos por perto, que
alguém ao encantar-se vem morar em nosso coração e além de nós, quem amamos
morará na luz divina, na força criadora do universo, no recomeço de nossa
existência. Mas o que resta a nós que ficamos? As lembranças, os ensinamentos,
as fotografias, a saudade, sempre a saudade.
Saudade que nos
consome a cada memória. Saudade que nos consola com os risos que foram
divididos. Quando eu me lembro dos momentos que vivi ao lado da minha avó penso
em tudo que construímos juntas, em tudo que ela me ensinou. Lembro-me das
tardes sentadas juntas conversando, lembro-me do amor mutuo que tínhamos,
lembro-me dos risos, dos passeios, de dormirmos juntas, de ter sua proteção, de
ter a honra de tê-la como avó. Todo este tempo ao lado dela foi maravilhoso.
Sinto como se ela estivesse agora sempre ao meu lado, mas esta saudade é
sufocante.
O que me consola,
e o que eu espero que console a minha mãe, meu tio, os outros parentes e
aqueles que gostavam de sua companhia é o fato de saber que ela foi muito feliz
durante toda a vida. Fez o que quis, disse o que quis, recebeu infinitamente o
nosso amor, e legou a nós sua felicidade. Ela carregava no bolso sempre uma
piada pronta, carregava sempre um sorriso camarada, e trazia sempre aquela
força de sertaneja mais forte que a vida e a morte. Força que precisamos ter
agora para seguir em frente e fazer o melhor dentro das possibilidades que se
apresentem. Força de entender que um dia nos reencontraremos, força de aceitar
que apesar da distância que nos separa agora nada irá apagar o que foi vivido
ao seu lado.
Espero minha avó
que eu tenha herdado sua força para superar esta saudade sufocante, espero que
eu tenha herdado a sua felicidade constante, o seu bom humor para que neste
momento de tempestade eu seja capaz de fazer florir paz no coração de nós que
ficamos do lado de cá da margem da vida, espero que apesar da despedida a sua
alegria de viver nos console. No mais, repito suas últimas palavras para mim,
até breve minha querida!