A melhor forma de
vingar-se da morte é ter a melhor vida possível. Nada podemos fazer para fugir
da indesejada das gentes, mesmo que completemos 100 primaveras, um dia
partiremos deste mundo, voltaremos ao mistério de nossa existência, o tempo
fará com que fiquemos no ontem. É uma verdade cruel a nós humanos sabermos que
um dia ninguém saberá das nossas dores, angústias, felicidades e conquistas do
hoje.
Mas afinal, qual o sentido de tudo isto? Qual o
sentido desta caminhada rumo ao desconhecido? O que podemos fazer para que tudo
valha a pena? O sentido deste caminho é o rumo que damos a ele. O sentido das
nossas vidas é aquele que nos faz feliz. O que nos resta a fazer é vivermos
todos os momentos que nos fazem bem, nos jogarmos na vida sem contar com o amanhã,
afinal não sabemos o que nos reserva o amanhã, talvez o futuro seja apenas o
reflexo do que é construído no agora. A nossa fragilidade humana
cria expectativas de um amanhã para que nos limitemos, possamos nos manter
calmos e conformados, mas meu esperançoso leitor, se nós formos capazes de
olhar por cima do muro que nos trava, veremos, não existe nada além do reflexo
do agora.
Por vezes
tentamos viver o passado, noutras tentamos viver o futuro, nos perdemos meio as
nossas expectativas e tentamos viver todos os dias de uma só vez. Mas não
conseguimos. Um dia de cada vez. Só assim aguentamos carregar toda a nossa
bagagem, toda a história da nossa existência. Dosar o tempo não é tarefa fácil.
Aliás, o que é o tempo? O tempo é a tentativa frustrada do ser humano controlar
o amanhã. O tempo é a tentativa sem sucesso de cada um de nós sabermos o que
nos reserva a página seguinte. O tempo é a ilusão que criamos a cerca do
amanhã. Os dias, o tempo, o futuro, todos são segredos criados por nós,
segredos que misteriosamente nos acalmam.
Solitário leitor,
se me perguntares por Deus, se você argumentar dizendo que Deus tem um plano
especial para as nossas vidas, eu retruco respondendo com algumas perguntas: E
as nossas escolhas, também são planos de Deus? Somos fantoches do abstrato
criador de tudo? Não seria egocentrismo achar que com tantos problemas no
mundo, tantas doenças incuráveis, tanto caos sobre a terra, Deus se importaria
com as bobagens que nos afligem a cada 5 minutos? Não acho que Deus em sua
infinita bondade seria tão passivo para assistir tudo e nada fazer, assim como
não posso crer que Deus seria um carrasco de castigar nossos pequenos delitos
diários. Não posso crer que Deus seria o reflexo semelhante de tamanha
imperfeição humana. Não posso crer que nós humanos limitados seríamos capazes
de entender Deus. Mas ainda assim creio que a ideia Deus nos faz bem. É muito
cruel imaginar que estamos sozinhos, que nada faz sentido, que nada podemos
fazer contra a morte, que somos apenas resultado da evolução de outros animais.
Meio a tantos
mistérios existenciais, meio a tantas dores sem motivo, meio a tantas ilusões
que nos consolam, seguimos nossas vidas, carregamos a beleza desta chance
maravilhosa que temos para fazermos o melhor pelo semelhante e por nós mesmos.
Carregamos a chance de sermos felizes todos os dias. E a nossa felicidade, a
nossa cura, a nossa paz interior só depende do que construímos dia após dia.