Existem tempos em
nossas vidas que o melhor a fazer é esquecê-los. Certos momentos, certas datas
e até um ano inteiro. De fato, sou adepta da teoria que tudo o que é ruim traz
algo bom, seja aprendizado ou recompensa. Mas infelizmente não é da minha natureza
esquecer, nem o que é bom, tampouco o que foi ruim. Já disse isto várias vezes
aos meus poucos leitores... Mas sempre volto a este ponto. Para pessoas com a
minha ‘natureza’ esquecer é um aprendizado dolorido.
Não torno os
momentos ruins uma obsessão da minha vida, mas os carrego sempre no bolso. O
fato é que hoje estou divagando sobre os momentos que vivemos e suas
peculiaridades... A força de cada momento e principalmente a força do tempo. Um
segundo, uma frase, uma esquina que dobramos muda o curso de nossa história. Em
um segundo podemos encontrar amigos maravilhosos que mesmo ausentes fisicamente
sabemos que podemos contar sempre com eles, haja o que houver. Podemos
encontrar ou perder o amor de nossas vidas. Podemos fazer tudo dar certo ou errado.
Podemos perder a amizade de alguém, ganhar a admiração,
ganhar ou perder o mundo inteiro. O tempo é um senhor absoluto que a todos
carrega em seus braços, os guiando para um mistério ainda maior que a própria
vida.
Estes mistérios
que transcendem a existência humana, os momentos vividos com ardor e o
resultado que se tem ao divagar entre eles carregam uma força em si que seria
medíocre da minha parte tentar definir. Confesso que tento ser imune aos
fantasmas que tenho acumulado em momentos de dor. Tento a alquimia de
transformá-los sempre em algo que me faça feliz, mas por vezes, essa atitude me
faz sentir irreconhecível. O que é ruim tem surtido o efeito de me dar mais
gana e paixão para desesperadamente alcançar minha realização de vida, ainda
que eu saiba que sempre haverá algo a realizar. Assim como Sísifo, persisto em subir
montanhas carregando pedras gigantescas e ao vislumbrar o topo derrubo-as ao
fim da ladeira por perceber que aquela pedra precisa ser aperfeiçoada com a
nova subida. Ou eu mesma preciso perseguir a perfeição durante a cíclica caminhada.
As esquinas da minha caminhada tem sido sufocantes, desgastantes, e por várias
vezes tem lapidado o que sou. Espero que esses momentos vividos de força
obscura ou nobre não deformem o que guardo de bom. Mas se deformarem, eu espero
saber renascer.
Esta catarse de
vida a que me proponho ao encarar meus diabos, é uma forma de libertação, afinal
como podemos seguir em frente se encontramos abismos, lacunas, enigmas em nosso
passado? Seguir em frente e aceitar a dúvida? A dúvida existe para ser solucionada.
Então se faz necessário ao menos uma vez na vida olhar a tudo que passou. Lamentar
se for preciso e só então seguir em frente. Este rabisco de análise do que
somos é necessário para conhecermos nossa essência. Então diante da nítida
imagem no espelho, encarando o retrato fiel (ainda que oculto) do que somos,
poderemos nos desapegar do que não é necessário.
Seremos livres
para aceitar o tempo, aceitar que muita ferida jamais cicatrizará e que tamanha
complexidade é o que se tem de mais normal entre nós humanos. Quem sabe ao
alcançar tal utopia eu possa olhar para minhas memórias quase esquecidas e
dizer que elas já não me fazem mal.